(Revista Sesc TV) “Um dia, enquanto eu dormia, ouvi um barulho e senti a bala entrando nas minhas costas. Pensei que estava morrendo. E não tinha dúvidas de quem era o autor do disparo: meu marido”. Este é o relato de
Maria da Penha Fernandes, brasileira, cearense, vítima de violência domestica, mulher que sobreviveu para contar sua história e, mesmo paraplégica, como resultado dessa violência, marcada pela dor e pelo trauma, encontrou forças para denunciar sua situação – e a de tantas outras mulheres que vivem histórias parecidas com a sua. 0 crime, ocorrido em 1983, tornou-se um marco da luta contra a agressão às mulheres, dando visibilidade internacional ao problema. Maria da Penha denunciou seu caso à Organização dos Estados Americanos (OEA) e sua luta resultou, duas décadas depois, na criação da lei 11.340/06, que leva seu nome e que pune com mais severidade os agressores.
Apesar das conquistas trazidas pela lei, ainda há muito o que avançar nessa área. Um estudo do lnstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (lpea), realizado neste ano, aponta que uma mulher morre no Brasil a cada hora e meia, vítima de agressão do parceiro. Por ano, há registros de cinco mil mortes no País por
esta razão. “Violência contra a mulher é considerada violação aos direitos humanos. Por mais que as mulheres estejam lutando pela condição de igualdade, nós ainda temos uma sociedade patriarcal, conservadora e tudo isso leva a um sentimento e pensamento de que a mulher, em alguns lugares, ainda é
subjugada pelo homem”, afirma Adriana Mello, juíza do 1° Juizado Especial de Violência Domestica no Rio de Janeiro.
O preconceito e a desinformação são barreiras ainda presentes no enfrentamento do problema. “Quando uma mulher chega machucada a delegacia, o delegado pergunta o que ela fez para merecer chegar com aquele machucado”, conta a socióloga e pesquisadora Christina Vital. Trata-se de um tema complexo, porque, ao denunciar o parceiro, nem sempre a mulher tem a intenção de se separar dele. “Muitas mulheres querem ajuda para o que elas vivem em casa, em vez do rompimento com a situação, e nem querem criminalizar o marido, porque não têm muita consciência do que implica o tramite judiciário”, explica Christina.
O tema da violência doméstica contra a mulher é abordado no documentário inédito Silêncio das lnocentes, que o SescTV exibe neste mês. Dirigido por lque Gazzola, o filme relata casos de agressão à mulher e relembra a história de Maria da Penha. Com depoimentos de vítimas e de autoridades, a obra reforça a urgência em criar um debate público sobre o assunto.
SERVIÇO: Silêncio das Inocentes. Direção: Ique Gazzola. Dia 28/12, às 22 horas
Acesse o PDF: Documentário – Para romper o silêncio (Revista Sesc TV, dezembro 2013)