(O Estado de S. Paulo) “Acusada de envolvimento em duplo homicídio sofre com a injustiça de receber pena mais dura do que a dos assassinos materiais do marido”. O Estadão reproduz artigo publicado no jornal The Washington Post, em que John Grisham, escritor e advogado norte-americano, denuncia o caso de Teresa Lewis, a única mulher no corredor da morte na prisão feminina de Fluvanna, estado da Virgínia (EUA).
Segundo o escritor, “todos os recursos já foram impetrados e se ela for executada, será mais um exemplo flagrante da injustiça do nosso sistema penal”. Será também a primeira vez em quase um século que uma mulher será executada pelo governo da Virgínia.
Grisham relata o caso: “Teresa Lewis não é inocente. Ela confessou seu crime à polícia, declarou-se culpada perante o juiz e, por quase oito anos, expressou seu remorso profundo pelos dois assassinatos em que se envolveu.”
“Em 2002, então com 33 anos, Teresa vivia com seu segundo marido num trailer, numa área rural perto de Danville. Ela mantinha um caso com um homem chamado Matthew Shallenberger que, além de um brutamontes, era um homem ambicioso, que estava à caça de dinheiro para criar uma rede de distribuição de drogas ilícitas, embora seu sonho, na verdade, fosse se tornar um assassino de aluguel.”
Shallenberger tinha um parceiro, Rodney Fuller. E os três -Shallenberger, Teresa e Fuller- “armaram um esquema para matar o marido dela e ficar com o dinheiro dele. Num certo momento, decidiram também assassinar o enteado dela, de 25 anos, membro da Guarda Nacional que tinha uma apólice de seguro.”
Pai e filho foram assassinados e os três foram presos. Shallenberger e Fuller foram condenados à prisão perpétua.
Desde 1912 nenhuma mulher tinha sido condenada à pena de morte no Estado. Mas Teresa foi.
“O argumento do juiz para decretar a pena de morte para Teresa foi o de que ela era mais culpada do que os outros dois, que mataram as vítimas enquanto dormiam. Segundo seu raciocínio, os crimes foram ideia dela; ela foi a mentora; ela recrutou os dois homens para fazer o trabalho sujo; ela queria o dinheiro; e assim por diante.”
Grisham lembra algumas questões apresentadas à época do julgamento de Teresa Lewis:
“1) Teresa tinha um QI pouco acima de 70 – quase retardada – e, como tal, não teria capacidade para organizar e conduzir a trama; 2) ela tinha uma personalidade dependente e, assim, obedecia ordens daqueles de quem dependia, especialmente homens; 3) por causa de diversas doenças, Teresa era viciada em remédios contra dor, o que tinha afetado sua capacidade de raciocínio; 4) Teresa não tinha um único episódio de violência no passado.”
Os advogados de Teresa recorreram à Suprema Corte, mas as chances não são boas, na avaliação de Grisham, que, além de escritor, é também advogado, que aponta que as inconsistências no caso da condenação de Teresa “desafiam a tese de que o nosso sistema tem como base a igualdade perante a lei”.
Leia na íntegra: A execução de uma mulher na Virgínia, por John Grisham (O Estado de S. Paulo – 14/09/2010)