18/02/2011 – Na China, todos sabem o que significa ‘resolver meninas’ (Estadão)

18 de fevereiro, 2011

(O Estado de S. Paulo) Na China, infanticídio é uma palavra pouco ouvida. Mas todos sabem o que significa “resolver meninas“. “Meninas são sufocadas ou jogadas nos córregos da China há séculos, particularmente por pessoas mais simples, que acreditam dever aos ancestrais um primogênito ou ainda ouvem as más previsões de adivinhos”, diz a jornalista e escritora Xinran, que denuncia a prática do crime, algo comum no país, especialmente em regiões remotas.

Xinran afirma que, por causa da educação moralista que recebem, até mesmo os jovens chineses dos centros urbanos ignoram os mais elementares métodos anticoncepcionais. Em seu novo livro, Mensagem de Uma Mãe Chinesa Desconhecida, Xinran diz que muitos acham inacreditável o número de meninas chinesas que, por milagre, acabaram adotadas por famílias ocidentais: 120 mil até o fim de 2007. Por que, afinal, a China tem tantas meninas órfãs? Para responder à pergunta, a jornalista de 53 anos, hoje morando em Londres, concedeu entrevista ao Estadão por telefone.

“Segundo Xinran, há três razões para uma mãe chinesa abandonar seu bebê de sexo feminino: nas culturas rurais, onde isso acontece há séculos, o sistema de distribuição de terras favorece os homens pela vantagem física; a população cresceu de maneira assustadora (de 700 milhões em 1966 para 1,3 bilhão de habitantes); por fim, a política do filho único nunca foi implementada de fato, especialmente nas regiões pobres da China. Em 1989, a jornalista visitou um vilarejo miserável ao norte do Rio Amarelo e uma mulher de pouco mais de 30 anos perguntou à então repórter se ela já havia ‘resolvido’ uma bebezinha – ou seja, se havia se livrado de um recém-nascido do sexo feminino. Xinran, confusa, não entendeu a pergunta, mas foi obrigada a ouvir a resposta: a família do marido jamais a perdoaria se ela não soubesse ‘resolver’ meninas. Seria espancada e sua ração alimentar reduzida ao mínimo.”

Leia na íntegra: Herodes na China (O Estado de S.Paulo – 18/02/2011)

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