(Agência UnB,Correio Braziliense) Muitos especialistas afirmam que aumentou o número de denúncias referentes à violência contra as mulheres e ainda há discussões que buscam elucidar se tal fenômeno ocorre por maior divulgação, ou se realmente tem aumentado a incidência desse tipo de crime.
Quando buscamos na história, percebemos que, realmente, a mulher sempre ocupou posição considerada inferior, tendo destaque na sociedade somente em ambientes domésticos. Com os questionamentos provocados pelos movimentos feministas das décadas de 1960 e 1970, percebemos que houve grandes mudanças, inclusive no mercado de trabalho. Mas tal reconhecimento, por parte da sociedade, parece não ter amenizado o preconceito e as cobranças feitas às mulheres, inclusive delas próprias.
Em estudo realizado em 2011, analisando as audiências feitas no Juizado de Violência Doméstica e Familiar do Distrito Federal, constatei que as autoridades que lidam com esse crime e as próprias pessoas que os sofrem percebem as mulheres vítimas como dependentes da figura masculina. O que de fato não podemos deixar de constatar. Mas o fator de tal violência seria somente isso?
As origens, segundo a antropologia e a sociologia, referem-se ao Estado patriarcalista em que estamos inseridos. Há também a visão da psicologia, indicando um ciclo de violência, existindo três fases: a fase da construção da tensão, em que há violências consideradas leves, como ameaças, injúrias; a de tensão máxima, com violências mais graves, podendo chegar ao homicídio; e a fase lua de mel, em que o agressor se arrepende e faz o possível para agradar a vítima, indicando mudança de comportamento. Os homens e as mulheres não conseguem se desvencilhar desse ciclo sem uma intervenção terapêutica.
Pensando nesse fato, a Lei Maria da Penha surge com a possibilidade de atuação multidisciplinar que promove a referida intervenção.
A principal questão que todas as mulheres gostariam de elucidar é como evitar tal violência e como não permitir que aconteça em seus lares. Acredito que, muito além de intervenções terapêuticas e de auxílios, a conscientização das mulheres com relação a qualquer ato considerado normal envolvendo falta de respeito e o início das violências psicológicas deve ser estimulada. O início das “violências leves” deve ser extirpado para que não evolua para os homicídios.
Muitos casos chocam a sociedade, como o de Eloá, que perdeu a vida simplesmente por terminar um relacionamento. Outros casos de violência também poderiam ser evitados se fosse dada atenção às vítimas ou a seus algozes quando iniciadas as “violências leves”, consideradas ainda por uma grande maioria como naturais, já que a pessoa estava com a “cabeça cheia” e “não pensou na hora de falar”.
Outro questionamento é o de como melhorar em todas as cidades o atendimento especializado, já que a lei possibilita a criação de delegacias e juizados, mas constatamos que na grande maioria dos estados brasileiros não há esse atendimento específico, o que dificulta a erradicação da violência contra mulheres.
Ainda hoje escutamos piadinhas que divulgam e propagam a posição da mulher como sendo inferior, tanto em seus lares quanto na sociedade. Essas atitudes contribuem para continuarmos tendo o pensamento de que o outro é um objeto e como tal deve ser comprado, ou não poder ser partilhado.
Pensamentos de posse e de materialização de seres humanos possibilitam a violência. Dessa maneira, percebemos que ainda está longe a erradicação da violência contra as mulheres, mas muitos avanços e pesquisas estão sendo desenvolvidos buscando elucidar as principais questões. Como propostas para melhor atendimento às mulheres estão a capacitação dos profissionais e a existência de outras formas de apoio, como parcerias com secretarias de desenvolvimento social em todos os estados, devendo haver um engajamento político que possibilite que atos que promovam mudanças culturais sejam desenvolvidos em todos os estados brasileiros e não somente nos que se interessar, pois, se não houver uma alteração que atinja todos os municípios, será difícil propor uma mudança social.
Tatiana Rosa Nogueira Dias é Doutora em linguística pela UnB
Leia em pdf: Violência contra as mulheres: como solucionar?, por Tatiana Rosa Nogueira Dias (Agência UnB – 28/07/2012)