A atriz Giselle Itié revelou à revista “Glamour” que foi estuprada por um namorado quando tinha 17 anos. No depoimento publicado, ela contou que namorava um homem 15 anos mais velho e tinha intenção de casar virgem, mas, durante uma viagem com a família dele, o namorado a violentou depois de colocar alguma substância em sua bebida. “Quando tinha 17 anos, fui estuprada pelo último homem que eu poderia imaginar”, escreveu Itié.
(UOL, 11/01/2017 – acesse no site de origem)
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De acordo com a psicóloga clínica Paula Licursi Prates, integrante da diretoria da ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, o fato de uma personalidade pública abordar essa temática é muito importante para a sociedade. “Quando uma pessoa pública fala sobre esse tema e tem essa repercussão é muito bom, pois essa é a melhor forma de mudar a mentalidade e o comportamento machista”, explica.
Para Paula, o depoimento da atriz faz com que o tema do estupro volte para a pauta do dia a dia e seja mais discutido e debatido. “Esse tema é muito silenciado e privado, ainda que os casos de estupro aconteçam todos os dias. Quando alguém fala a respeito, quem já passou ou está passando pela mesma situação se toca: ‘opa, já li sobre isso, não estou sozinha’. Ela sai do lugar de solidão e sofrimento, pois sabe que pode buscar apoio com outras pessoas que já passaram por isso ou com as autoridades”, fala.
Quanto ao fato de o próprio namorado de Giselle ter sido o autor do assédio, a psicóloga clínica diz que o caso corrobora com os dados do Ipea de que 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima. “Enquanto os homens sofrem violência urbana, as mulheres sofrem violência doméstica. O estupro dentro do casamento só foi reconhecido como crime há pouco tempo. Existe aquela ideia arraigada de que o homem tem direito sobre o corpo da mulher quando está em uma relação”, afirma.
Após perceber o que havia acontecido, a atriz ficou em choque e foi para o chuveiro tentar se lavar. Quando chegou em casa, contou o que aconteceu para sua mãe, que mais tarde bateu no namorado. Ainda que, na opinião de Paula, não exista uma regra de se é positivo ou não para a vítima contar sobre o abuso sofrido, a psicóloga reconhece que, para alguns, é importante dividir com alguém o que aconteceu. “Ao dividir isso com alguém, a pessoa consegue sair do lugar de culpa. Quem é assediado acha que tem responsabilidade sobre aquilo, não consegue responsabilizar o outro, só a si própria. E, ao dar esse passo, a pessoa vê a própria vitimização”, explica.