A cada 4 anos um evento atrai todos os holofotes para si. Capaz de gerar milhões em faturamento com propaganda e mídia, o futebol é um esporte altamente lucrativo. Além de todas essas possíveis análises, é necessário pensar como futebol produz, reproduz representações sociais heteronormativas, misóginas e homofóbicas.
(Bem Querer Mulher, 20/06/2018 – acesse no site de origem)
O futebol moderno é uma fábrica de construção de papéis sociais de gênero. É o cenário perfeito onde as relações sociais de dominação se cristalizam. O futebol de verdade é masculino, o que vale pintar ruas, corpos, vestir a camisa amarela. O futebol feminino é de brincadeirinha, uma recreação, um espaço cedido mas com ressalvas para as mulheres. O futebol que mexe com as emoções, faz vibrar e aflorar o patriotismo é o futebol viril que reforça o poder e domínio do masculino.
Por que o futebol se tornou este ápice da representação masculina? As representações sobre as masculinidades são criadas dentro de uma sociedade e dentro de uma cultura. E como construção determinam os papeis de homens e mulheres na sociedade. Então, o esporte como fragmento desta cultura forma os indivíduos como sujeitos de gênero e é a partir do conceito de relações de gênero que nos permitimos pensar e agir nas formas das masculinidades baseadas na virilidade, no poder, controle. E desde o técnico da seleção brasileira até o gândula, é atravessada a figura que ser homem no Brasil é se aproximar deste modelo. O futebol define a existência de uma masculinidade porque “não se pode dizer que os corpos tenham uma existência significável anterior à marca do seu gênero” (BUTLER, 2003, p. 27). O conceito de “gênero funciona como um organizador social e da cultura (…) e, assim, engloba todos os processos pelos quais a cultura forma desde a infância valores que os homens deverão assumir.
Assim como no futebol o jogador é medido pela sua peformarce, na sociedade homens são medidos pela sua performace. Estão incluídas nesta performatividade a força, nunca desistir, alcançar a glória, intimidar, dominar. São atributos sociais cristalizados desde a educação em escolas que homens não podem demonstrar sentimentos de afeto, carinho ou cuidado. “Doar o sangue pela camisa”, significa muitas vezes abrir mão de valores, de morrer se preciso for, para ser considerado como herói. A perversidade do futebol torna meninos em homens agressivos, focados em uma vitória isolada, em um prêmio pela glória que o importante é ser o primeiro. As masculinidades que se baseiam nestes atributos exercem de fato o controle, estão no limite da prática da violência contra si e contra mulher. Quem sabe, um dia poderemos ter um outro modelo de futebol, dentro e fora dos campos e estádios de futebol.