A violência doméstica, a culpa e a não realização das expectativas impostas às mulheres são algumas das causas do adoecimento mental feminino. O tema foi debatido nesta terça-feira (26), em audiência pública conjunta das comissões de Seguridade Social e Família; e de Defesa dos Direitos da Mulher.
(Câmara Notícias, 27/06/2018 – acesse no site de origem)
De acordo com a doutora em psicologia Valeska Zanello, coordenadora do Grupo de Pesquisa “Saúde Mental e Gênero”, da Universidade de Brasília, a forma de agir dos homens faz com que o Brasil seja um dos países do mundo onde mais se matam mulheres. As pressões sofridas pelas mulheres geram transtornos de ansiedade e depressão, entre outras doenças, aponta a professora.
Ela defende que é necessário discutir um tipo de masculinidade agressiva, que não só faz as mulheres adoecerem como também faz com que as principais causas de morte entre os homens sejam os homicídios, acidentes de carro e suicídios.
Para Valeska Zanello, não se pode falar em saúde sem debater a saúde mental. “A gente tem várias questões que precisam ser nomeadas e problematizadas. Por exemplo, um alto índice de medicalização das mulheres por psicotrópicos, principalmente antidepressivos e ansiolíticos. Isso é invisibilizado. A gente tem o problema da violência contra as mulheres – o Brasil é o quinto país em feminicídio – como um fator de adoecimento, o que tem sido sistematicamente reificado no serviço de saúde mental.
Como formas de ajudar na manutenção da saúde mental das mulheres, Valeska Zanello propôs a construção de creches, para que elas possam retomar a vida após a maternidade, e o debate da questão de gênero nas escolas, para que meninos e meninas tenham outras perspectivas.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) destaca as pressões sofridas pelas mulheres como causas do adoecimento mental feminino. “As mulheres têm muito sofrimento psíquico. Primeiro que são silenciadas pela sociedade sexista, machista, misógina. Ao mesmo tempo, as mulheres muitas vezes são consideradas coisas, são coisificadas. Isso significa que não temos espaço para vivenciar a nossa própria humanidade”, disse. “Então, essa discussão de recorte de gênero na saúde mental, ela precisa ser considerada. É preciso dar visibilidade para que a gente possa ter políticas próprias”, concluiu.
Segundo Erika Kokay, a culpa é usada como um instrumento de dominação. A sociedade culpa as mulheres pelos erros dos filhos, pela própria violência que sofrem e até pela pouca representatividade na política, o que gera um grande sofrimento mental, afirma a deputada.
Já o psicólogo Adriano Lima, presente ao debate, afirma que a reinvindicação dos direitos das mulheres não pode ser contra os homens. Para ele, não se pode declarar que todos os homens são violentos ou agressores.
Mônica Thaty; Edição – Marcia Becker