A quadrilha do Golpe, a serviço de uma elite brasileira escravista e gananciosa, não tem legitimidade alguma e nem possibilidade real de controlar o crime organizado no Rio de Janeiro, uma vez que estão envolvidos numa rede de acobertamentos mútuos, que envolvem traficantes, milícias, setores da polícia e da política. Uma cadeia que tece laços globais com suas ilegalidades.
(Articulação de Mulheres Brasileiras, 21/02/2018 – acesse no site de origem)
O verdadeiro combate ao crime organizado precisa, em primeiro lugar, enfrentar a ilegalidade, hoje tão enraizada na sociedade fluminense, que assiste atônita às múltiplas violências e violações, somadas às injustiças cometidas pelos atuais governantes. É imperioso reconhecer que o circuito do tráfico de armas e drogas, acompanhado de toda a engrenagem que ali se inicia de negócios, subempregos e “jeitinhos”, tem sido um verdadeiro motor e sustento da economia carioca. Uma economia da ilegalidade, que tem tornado a população vítima e ao mesmo tempo refém.
O Rio de Janeiro precisa sim de uma verdadeira vocação econômica e de emprego de qualidade, com que a elite carioca nunca se preocupou em criar e, ao que parece, agora menos ainda, uma vez que está enganchada na globalização financeira e no lucro fácil da especulação e da economia digital. Ao contrário, encontra reforço para sua lógica predatória na flexibilização das leis trabalhistas, na reforma da previdência, e no congelamento de gastos públicos. Há um descarte da mão de obra que é emoldurado com o genocídio da juventude negra nas periferias urbanas e nos presídios. Atentas a tudo isto, e ao lado das mulheres diretamente atingidas neste contexto perverso, entendemos que a intervenção federal militar no Rio de Janeiro vem aprofundar essa macabra perspectiva genocida.
O Rio de Janeiro precisa sim de educação, ciência e tecnologia, único acesso ao Século XXI com alguma perspectiva de alcançar o tal desenvolvimento com sustentabilidade e bem estar. Os governos que defendem a intervenção federal são os mesmos que estão a estrangular as universidades, diminuindo o orçamento público para pesquisas e sucateando uma instituição de excelência como a UERJ.
O Rio de Janeiro precisa sim retomar sua autoestima, seu espírito pacifico, o convívio respeitoso e seu ânimo alegre e mordaz, como ficou demonstrado neste Carnaval pela Escola Paraíso de Tuiuti e sua profunda e bem-humorada crítica ao desgoverno que vive o Rio e o país.
Muito já foi dito sobre a ilegalidade deste decreto de intervenção federal a cargo de um militar, com a cumplicidade da mídia hegemônica e manipuladora e dos que se atrelam ao projeto de golpe e permanência no poder. Há especulações sobre o beneficiamento a uma das facções do tráfico – que trava uma feroz luta interna para o domínio do mercado. Tudo isto estamos levando em conta em nossa análise, mas queremos chamar atenção para o momento de profunda crise civilizatória que vivemos.
Reafirmamos que as falsas soluções pirotécnicas e midiáticas impostas ao povo do Rio, através de intervenção militar abrem brechas na sociedade, aumentam as distâncias na cidade partida, e aprofundam a violência e o “cativeiro social”. Nós mulheres que, diariamente, apesar das discriminações e violências que sofremos, contribuímos à sustentabilidade da vida, continuaremos a resistir e a construir em igualdade e justiça, os caminhos para um devir onde a vida possa ser vivida na paz e com justiça.
AMB Rio – Articulação de Mulheres Brasileiras
Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2018.