(El País, 01/08/2016) Em Aceh, Indonésia, são aplicadas normas islâmicas rígidas. Castigos para ‘proteger’ as mulheres
Aqui não é um problema. Na província indonésia de Aceh, onde é aplicada a sharia (lei islâmica) desde 2001, ocorreu o açoitamento do mês. Em público, com câmeras e diante de dezenas de pessoas que observam como os infratores da lei recebem os golpes estipulados pelo tribunal islâmico. Os carrascos cobrem o rosto; duas mulheres uniformizadas ajudam a vítima; e a plateia do macabro espetáculo vê e ouve os gestos e gritos de dor dos punidos. Como a jovem da fotografia – tirada na mesquita de Al Furqan – açoitada por se encontrar com um homem que não é seu marido; algo proibido pela sharia.
Aceh endureceu a aplicação da lei islâmica nos últimos anos. No território em que vivem por volta de 220.000 pessoas se condena duramente o adultério, o consumo de álcool, certas roupas, a venda de alimentos no ramadã e até mesmo ficar sozinho com uma pessoa do sexo oposto que não é cônjuge ou parente. Os infratores enfrentam punições corporais, na maioria das vezes flagelações públicas. E é raro o mês sem nenhum punido. As autoridades acreditam que esses atos públicos servem para dissuadir a população.
A província é a única da Indonésia na qual a sharia é aplicada. O país, de 255 milhões de habitantes, concentra a maior população muçulmana do mundo e registra há anos – com escassas mobilizações contrárias – uma realidade cruel e degradante que foi duramente criticada pelas organizações internacionais.
Os condenados são homens e mulheres. Mas são elas, como sempre, as mais vulneráveis. Especialmente diante das acusações de adultério em uma sociedade que, tradicionalmente, as culpa por essas desonras. Não se pode esquecer que depois do flagelamento público, elas, as adúlteras, enfrentarão o isolamento social.
A jovem da fotografia dificilmente poderá se livrar dessa marca colocada pelas autoridades de uma província na qual também se proíbe, por exemplo, que as mulheres entrem sozinhas nos locais de lazer após às onze da noite. Medidas para “protegê-las”, dizem. Mas quem as protege do bastão e dos golpes?
María Sahuquillo
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