(Metrópoles, 05/06/2016) As últimas semanas foram um soco no estômago das mulheres. Uma série de estupros, em todos os cantos do país, foram denunciados pela imprensa. Os crimes, bem similares, aconteceram em uma favela carioca, no interior do Piauí e também em um evento universitário em Sorocaba.
No mesmo período, o premiado ator Johnny Depp entrou em casa, uma cobertura luxuosa em Los Angeles, discutiu com a mulher Amber Heard e jogou o telefone celular na cara dela. O formato do aparelho ficou marcado rosto da atriz. Essa não era a primeira vez que o americano agredia a companheira.
Essas quatro mulheres não poderiam ter crescido em situações culturais e econômicas mais diferentes. As brasileiras não têm fama, dinheiro e vivem em uma sociedade onde a cultura do estupro ainda é uma realidade. Amber é rica, frequenta as rodas mais refinadas do mundo e tem acesso aos melhores advogados do planeta.
Mesmo assim, todas, sem exceção, tiveram seus depoimentos colocados em dúvida. Não importa se um vídeo prova que a vítima estava desacordada, não importa que outras pessoas presenciaram o ato, não importa se as marcas da violência ainda estão visíveis no corpo. Na sociedade patriarcal brasileira e norte-americana, a mulher sempre é culpada.
Ela pode ser loira, negra, rica, pobre, baladeira, caseira, freira, prostituta, com mestrado ou sem o ensino fundamental completo. Não há provas físicas, depoimentos ou imagens que sejam suficientes para abafar os comentários: “ela provocou”, “ela queria ganhar dinheiro e fama” ou até “ela mereceu”.
Por que temos tanta dificuldade de acreditar que as mulheres são agredidas diariamente? Por que temos que julgar o contexto social da vítima? E por que não temos a capacidade de reconhecer que os culpados são os homens machistas que se sentem superiores a elas?”
Sim, não adianta reclamar, são todos machistas. Os meninos que estupraram, tiraram onda e filmaram a menina carioca desacordada e machucada. O sex symbol Johnny Depp que tem histórico de agredir (mesmo que verbalmente) antigas namoradas como Kate Moss e Winona Ryder. E você também, homens e mulheres que se proclamam machistas com orgulho.
Todos esses comportamentos contribuem para que mulheres não denunciem estupro e violência doméstica. Afinal, elas serão sempre julgadas, em todos os momentos do processo de investigação. Um sorriso torto pode ser interpretado com o uma ironia ou um filho aos 13 anos pode te dar um atestado de jovem irresponsável.
Sinto muito, não existe protocolo para agir depois de uma agressão, assim como não há um ritual psicológico correto para quem sofre uma perda. Então vamos fazer um exercício? Vamos aprender a escutar sem julgar? Ver as provas óbvias sem contestar? E, principalmente, parar de proteger homens que agridem mulheres? Eles não merecem o seu respeito.
Acesse no site de origem: Por que duvidamos das mulheres que denunciam uma agressão?, por Olívia Meireles (Metrópoles, 05/06/2016)