(Globo News, 12/07/2016) Autora da peça ‘Os Monólogos da Vagina’ comenta caso de estupro coletivo. “Vivemos em uma cultura do estupro, independente do país”, afirma ativista.
“Vivemos em uma cultura do estupro, independente do país”, afirma Eve Ensler, autora do texto ‘Os Monólogos da Vagina’, que começou como uma pequena peça em New York há 20 anos atrás e virou um movimento mundial. O texto já foi apresentado em 140 países em 149 línguas. O ‘Milênio’ conversa com a ativista americana sobre o alcance dos monólogos, que mobilizam o mundo inteiro para acabar com a violência contra as mulheres.
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O termo “vagina”, para autora, não simboliza o verdadeiro significado do órgão feminino. “Ela é um lugar de uma generosidade enorme, de dimensões místicas, de prazeres incríveis, e acho que há um poder incrível na conexão entre nosso coração, nossa vagina e em toda energia, generosidade, compaixão, intuição e visão que habita os dois lugares”, declarou.
A autora baseou a peça em histórias verdadeiras sobre o prazer feminino, a opressão ou o terror vividos. Por ser um texto verdadeiro, as mulheres se identificam e sentem vontade de contar suas histórias, se envolvendo na experiência. “Quando as mulheres começam a falar sobre a vagina, a contar o que aconteceu com elas, algo começa a ser libertado e uma história mais profunda e maior emerge. E, seja nas Filipinas, na Índia, em Bangladesh, ou na África, no Congo, é incrível ver o que acontece quando elas começam a falar sobre a vagina”.
Um movimento global, chamado Dia V, nasceu depois das apresentações. Existe desde 1998, quando realizaram a primeira apresentação em New York. “Nos últimos 15 anos, eu cedo os direitos da peça durante um certo período do ano e grupos do mundo inteiro encenaram a peça em fevereiro. Eles montam a peça, arrecadam dinheiro para grupos locais, conscientizam a população, seja em faculdades, prefeituras, igrejas, grupos comunitários, e ficam com o dinheiro que arrecadam. Nós arrecadamos US$ 100 milhões, e tudo foi para grupos locais”, afirmou Ensler.
Eve acredita que, como vivemos em uma sociedade patriarcal, todo o tipo de violência contra as mulheres, seja sexual, física ou psicológica, é uma maneira de sustentar este modelo. “O que aconteceu no Brasil, pelo que eu entendi, foi abominável. A ideia de que uma mulher foi estuprada por 30 homens que filmaram, se gabaram, e divulgaram na internet e que outros homens acharam legal e disseram coisas nojentas… E aposto que isso acontece desde sempre no Brasil. Geralmente o que acontece é que um caso, por algum motivo, ganha visibilidade e chama a atenção das pessoas”.
Para a autora, a denúncia e o ativismo são os principais passos para acabar com esta realidade de violência e ódio às mulheres. Ensler também aponta que o papel dos homens é fundamental. “Eu não acredito que a maioria seja estupradores, não acredito que a maioria seja de patriarcas terríveis, mas os homens bons estão quietos, eles são passivos, eles não desafiam e falam com os homens responsáveis por esses crimes, essa violência. Os homens precisam ser treinados, precisam aprender o que é sexo, e o que é estupro, qual é a diferença entre sexo e estupro”.
“Eu quero dizer às mulheres brasileiras que estou aqui. Se precisarem de mim de qualquer forma, eu apoiarei vocês, e fiquei muito orgulhosa e comovida com as incríveis reações nas ruas a favor daquela linda moça que foi terrivelmente estuprada”, finaliza a autora comovida.
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