Levantamento indica que 67% dos moradores dessas regiões já reproduziram frases machistas. Sete em cada 10 brasileiros assumiram autoria de falas preconceituosas; Ibope ouviu 2 mil pessoas.
(G1, 11/10/2017 – acesse no site de origem)
Presente em todos os cantos do país, o machismo é ainda mais forte nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, aponta pesquisa do Ibope feita no mês passado. O levantamento ouviu 2.002 pessoas, e verificou que 67% dos moradores dessas áreas reconhecem que já reproduziram frases machistas.
Os dados foram coletados a pedido da cerveja Skol. O estudo revelou que 7 em cada 10 brasileiros assumiram ter falado, alguma vez na vida, comentários preconceituosos – embora 83% deles tenham se declarado não preconceituosos.
No último domingo, o Fantástico divulgou os dados nacionais da pesquisa (veja aqui), que se baseou em analisar quatro tipos de preconceito mascarados: machismo, LGBTfobia, estético (gordofobia) e racial.
Segundo o levantamento, o machismo está presente no cotidiano de 99% dos brasileiros ouvidos. Dos entrevistados, 61% já pronunciaram algum comentário machista, mesmo que alguns não reconheçam o preconceito. A LGBTfobia foi citada como o principal preconceito entre os brasileiros que se declararam preconceituosos, com índice de 29%.
Região Centro-Oeste e Norte
Os organizadores da pesquisa questionaram os moradores do Centro-Oeste e do Norte se eles já ouviram ou falaram determinadas frases, como “mulher tem que se dar ao respeito”, “pode ser gay, mas não precisa beijar em público”, “não sou preconceituoso, até tenho um amigo negro”, “ele (a) é bonito, mas é gordinho(a)”.
De acordo com o estudo, os comentários mais reproduzidos nessas regiões foram:
- “Mulher tem que se dar ao respeito” (53%)
- “Mulher ao volante, perigo constante” (30%)
- “Ele(a) é bonito(a), mas é gordinho(a)” (29%)
- “Isso é coisa de ‘viado’. É ‘viadagem'” (26%)
- “Não sou preconceituoso, até tenho um amigo negro” (24%)
Para a professora de jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora na área de estudos feministas e de gênero, Liliane Machado, a região Centro-Oeste ainda vive à sombra da cultura patriarcal.
“A gente tem essa origem da família mononuclear e agrária. As relações patriarcais e agrárias de uma sociedade coronelística – conceito da ciência política em que o senhor da terra mantém o domínio sobre a família e os agregados – ainda são muito fortes aqui e em todo o país”, disse Liliane.
A pesquisadora diz, no entanto, que muitas pessoas têm receio em assumir que reproduzem discursos machistas.
“Ainda percebo mulheres sofrendo violência psicológica e física em todo o país. No DF, a gente ainda tem dados alarmantes de agressões e estupros contra as mulheres.”
Machismo e violência
Durante os 11 anos de vigência da Lei Maria da Penha, completados neste ano, o Distrito Federal registrou uma média anual de 13 mil denúncias por violência contra a mulher. De 2006 a 2017, 93,4 mil mulheres pediram proteção da Justiça por se sentirem ameaçadas. Em média, um pedido de medida protetiva foi protocolado por hora, durante todo esse tempo.
Os dados compõem o relatório estatístico do Ministério Público sobre violência doméstica. Ameaça (60%), injúria (58%) e lesão corporal (32%) representam os principais crimes praticados contra as mulheres nesse período.
Um balanço da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostrou que, apenas no primeiro semestre de 2017, cerca de 7,1 mil ocorrências de violência doméstica foram registradas no DF. Entre as vítimas, as mulheres jovens, com idade entre 18 e 24 anos, são a maioria.
Além da constatação sobre o machismo, o levantamento do Ibope também reuniu as seguintes constatações:
18% dos entrevistados da região Norte e Centro-Oeste se declaram preconceituosos
Mesmo entre os que não se julgam preconceituosos, 78% já falaram comentários preconceituosos
- 67% dos entrevistados da região já fizeram comentários machistas
- 45% já fizeram comentários racistas
- 47% já fizeram comentários homofóbicos
- 36% já fizeram comentários de preconceito estético/gordofobia
O pesquisador em diversidade da Universidade São Paulo (USP) Ricardo Sales afirma que o preconceito está naturalizado na sociedade brasileira, ”A pesquisa alerta para a necessidade de falar mais sobre o assunto e refletir sobre atitudes que impedem o respeito e a conexão entre as pessoas no dia a dia.”
Objetivo da pesquisa
O gerente de marketing da Skol, Kim Moraes, afirmou ao G1 que o levantamento foi encomendadao com o objetivo de propor uma reflexão sobre as atitudes e comentários que podem gerar afastamento entre as pessoas.
“A Skol abraçou o tema da diversidade e começou a estudá-lo com mais profundidade. Olhamos para as campanhas antigas e, hoje, dizemos que elas não nos representam mais. Queremos levantar o debate. Só assim conseguiremos derrubar os muros levantados pelo preconceito”, disse Kim Moraes.
Letícia Carvalho