Com o lema ‘se unir para ficar mais forte’, cada vez mais universitárias estão se organizando em coletivos feministas para combater o machismo no meio acadêmico. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos principais é o Coletivo ComCiência, criado em 2015 por alunas de Engenharia. Segundo uma de suas participantes, a aluna do sexto período de Engenharia Mecânica Lorrane Morena, de 26 anos, o objetivo inicial era mudar o estigma das mulheres na área de Exatas, tradicionalmente dominada pelo gênero masculino:
(Extra, 08/05/2018 – acesse no site de origem)
— Tendo a universidade como lugar de referência para a produção do conhecimento, é essencial que aqui não seja um espaço de propagação de discursos preconceituosos naturalizados. Observamos que para uma mulher ser respeitada no meio acadêmico, em geral, ela precisa ter um desempenho acima da média. Caso contrário, qualquer falha é vista como uma inaptidão natural para Exatas e não apenas como algo pontual, normal para um estudante da área.
Com o tempo e as demandas, o trabalho foi ampliado. E hoje o coletivo recebe e encaminha denúncias feitas por alunas da instituição.
— Já tivemos casos de professor fazendo piadas machistas dentro de sala de aula e de alunos assediando alunas – conta Lorrane.
Para Cláudia Morgado, diretora da Escola Politécnica da UFRJ (Poli-UFRJ), os coletivos feministas colocam em pauta a necessidade de garantir direitos iguais entre homens e mulheres, oferecendo informação e apoio, principalmente para alunas jovens, nos casos de assédio:
— Um ambiente mais igualitário propicia um melhor desenvolvimento acadêmico e humano de todos.
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) também conta com grupos feministas atuantes em seus campi. Um deles é o Carolinas – Coletivo de Mulheres Negras, que reúne as lutas contra o machismo e o racismo.
— Não é fácil encontrar mulheres negras em cursos como Direito ou Engenharia. Com a ajuda dos coletivos, podemos mostrar que estamos, sim, presentes. É ótimo trocar experiências com as meninas, uma maneira de não aguentar o fardo sozinha – explica a aluna do sétimo período de Pedagogia Pamela Machado, integrante do grupo.
Na Puc-SP, o destaque é o coletivo das alunas de Direito, YABÁ. Nos encontros semanais, as cerca de 25 participantes discutem pautas caras ao feminismo, como aborto, vertentes e a situação das presas no sistema carcerário.
— É imprescindível a existência de coletivos feministas dentro do ambiente universitário, uma vez que este, assim como outros ambientes, é opressor às mulheres, com condutas machistas de diversos professores, de alunos e da própria administração da universidade — explica Ana Luisa Viveiros, aluna do quinto período de Direito da instituição, que conclui:
— Por sermos mulheres, somos sujeitas não só ao padrão e estereótipo que envolvem a ideia da feminilidade, mas também às violências física e psicológica. Um professor, por atitudes que não concordávamos, já foi demitido a partir de denúncia feita pelo coletivo.
Ramon de Angeli