Estudo exclusivo do Made/USP aponta ainda que sete em cada dez brasileiros mais pobres são negros
(Folha de S. Paulo | 10/12/2021 | Por Douglas Gavras)
Aos 60 anos, Graziela Pereira não pode pensar em parar de trabalhar. Desde 2019 entregando panfletos no centro de Curitiba (PR), ela não reclama do sol ou do calor, só pede licença a quem atravessa a praça apressadamente e oferece um cartão de compra de ouro e joias. “Quando muita gente aceita, ganho meu dia”, diz ela.
Do dinheiro que Graziela ganha trabalhando oito horas todos os dias depende uma neta de dez anos. Sem poder contar com ajuda dos pais da criança, ela, que já trabalhou em escritórios, lojas e restaurantes, tira forças para estar nas ruas por mais um dia. “A vida da gente é sempre incerta, mas prefiro agradecer por ter meu trabalho.”
Realidades como a dela ajudam a ilustrar um dado alarmante no país: no Brasil, o topo da pirâmide de renda tem cor e gênero. Os 705 mil homens brancos que fazem parte do 1% mais rico do país e representam 0,56% da população adulta têm 15,3% de toda a renda, uma fatia maior do que a de todas as mulheres negras adultas juntas.
Elas, que somam 32,7 milhões de pessoas e são 26% da população adulta, detêm apenas 14,3% da renda nacional, segundo levantamento exclusivo do Made/USP (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades, da Universidade de São Paulo).