Em três a cada dez casos, o assassino é um namorado, marido ou ex-companheiro
(O Globo, 23/03/2018 – acesse no site de origem)
Duas a cada três mulheres vítimas de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) no estado do Rio de Janeiro são pardas ou negras. Microdados do Instituto de Segurança Pública (ISP) obtidos pelo GLOBO via Lei de Acesso à Informação apontam que, de janeiro de 2014 a setembro do ano passado — conteúdo mais recente disponibilizado pelo órgão —, houve 1.468 casos de mulheres assassinadas em território fluminense. A média é de uma ocorrência do gênero por dia, aproximadamente.
Em 107 dessas mortes, não foi informada a cor da vítima no momento em que o registro foi feito. Praticamente metade dos homicídios em que consta a raça foram contra mulheres pardas (657 de 1.361). Houve, ainda, 432 assassinatos de vítimas brancas, e outros 271 de negras. No último dia 14, a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi executada com quatro tiros no bairro do Estácio, na Zona Norte do Rio, em um ataque que também vitimou o motorista Anderson Pedro Gomes. O crime, porém, não entra nas estatísticas citadas, por conta do período em que ocorreu.
Já o recorte por idade aponta que mais de um terço das vítimas tinha até 26 anos — 413 casos, de 1.171 em que a data de nascimento foi informada. Dessas, 149, ou 12,7% do total (uma a cada oito ocorrências), foram contra menores de idade. Também chama a atenção o percentual de vítimas na faixa etária que vai dos 31 aos 40 anos, justamente a de Marielle, que tinha 38. Foram 281 mulheres assassinadas com esse perfil, ou 24% de todos os homicídios dolosos analisados.
A capital do estado, que concentra quase 40% da população fluminense, responde por um percentual um pouco menor dos assassinatos contra mulheres: 32,5%. Na lista das dez cidades do Rio com mais ocorrências do tipo, cinco ficam na Baixada Fluminense: Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João de Meriti e Magé. Também aparecem no ranking o município de São Gonçalo e outros três fora da Região Metropolitana: Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense; Cabo Frio, na Região dos Lagos; e Angra dos Reis, na Costa Verde. Na análise por bairro, o predomínio é das zonas Norte e Oeste da capital, com cinco figurantes cada.
Dos 1.468 casos considerados, em 565 foi informado, quando o registro de ocorrência foi feito, a relação entre o possível autor e a vítima. Em 170 (três a cada dez, portanto), a pessoa que cometeu o assassinato era namorado, marido ou ex-companheiro da mulher morta. Houve, ainda, 47 assassinos apontados como parentes da vítima, incluindo 16 progenitores e sete filhos.
Luã Marinatto