(El País, 26/04/2016) A beleza do arco-íris da pele humana
São simples retratos em plano médio e curto, e nenhum deles vem acompanhado de nome, idade, nacionalidade ou religião. Tão somente os une um nexo comum: seus modelos deixam a pele nua. A fotógrafa brasileira Angélica Dass constrói com eles Humanæ, um projeto que visa compor o catálogo de Pantone humano mais amplo possível. O espectro de tonalidades nele é tão grande que a autora pretende mostrar assim a limitação de dividir o mundo em quatro grandes grupos raciais.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou sua origem ou sua religião”, dizia Nelson Mandela na autobiografia Longo Caminho para a Liberdade, de 1994. É a mesma premissa com a qual foi configurado Humanæ. Nenhum dos fatores que o então ativista sul-africano mencionava influi na hora de escolher os modelos voluntários deste projeto, que continua em permanente ampliação e não tem data final. Todas as pessoas que desejarem podem fazer parte deste mosaico humano. “Só acabaria no caso de ter fotografado a população mundial por completo”, explica a artista em sua página oficial na Internet.
Nos últimos quatro anos mais de 3.000 pessoas em 13 países e 19 cidades de todo o planeta posaram para sua câmera e, com os diferentes tons de cor de pele, moldam já este amplo guia cromático. Muitas delas se põem em contato com a brasileira em seuperfil no Facebook. Dass encaixa logo sua tonalidade no Pantone, um catálogo de cores de uso profissional no campo do desenho e da moda.
“Passaram-se décadas desde que o último país do mundo aboliu a escravidão. E 53 anos desde que Martin Luther King pronunciou o discurso “Eu tenho um sonho”. Mas ainda vivemos em um mundo no qual a cor de nossa pele não só causa uma primeira impressão, mas a definitiva”, comentava ela mesma no início da conferência TED A Beleza da Cor da Pele Humana, que proferiu em fevereiro.
A brasileira cresceu em uma família cheia de tonalidades. Seus avós, ela “de pele de porcelana” e ele com “um tom baunilha e o tom do iogurte de morango”, adotaram seu pai, que herdou da família biológica “um intenso tom chocolate escuro”. Sua avó materna era “uma nativa do Brasil, de pele canela com um toque de avelã e mel”. Seu avô materno era um homem com a pele café com leite, mas com muito café”. Por isso, a cor não tinha nenhum significado para a fotógrafa até que saiu pelo restante do mundo, relata em sua palestra.
“Humanæ é uma tentativa de ressaltar nossas verdadeiras cores de pele, em vez das falsas: o branco, vermelho, preto ou amarelo, associadas à raça. De repente, eu me dei conta de que esta ideia era útil para muitas pessoas. Representa uma espécie de espelho para aqueles que não se veem refletidos em nenhuma etiqueta”, argumenta. A seguir, pode-se visualizar a conferência TED na íntegra. Com o botão da parte inferior direita da tela, que inclui um símbolo de reticências, é possível ativar os subtítulos em outros idiomas.
Héctor Llanos Martínez
Acesse no site de origem: Fotógrafa brasileira luta contra as diferenças raciais com um mosaico composto por 3.000 retratos (El País, 26/04/2016)