(Folha de S. Paulo, 11/12/2015) “Só dá gente bonita aqui hoje”, diz o apresentador ao receber os atores Luciano Quirino e Heloísa Jorge no “Programa do Jô” (Globo) da última quinta-feira (10).
Os atores estão, ao lado de Gustavo Falcão e Yashar Zambuzzi sob a direção de Gustavo Paso, em cartaz com a peça “Race” (David Mamet – tradução de Léo Falcão), no Teatro Poeirinha (RJ), até 20 de dezembro próximo.
“Depois do espetáculo tem sempre um debate, o que nos surpreendeu muito, porque a plateia fica para o debate”, comenta Quirino. “Uma coisa que a gente percebe no nosso espetáculo é que acaba a peça e a plateia tem dificuldade de se levantar, inclusive pra aplaudir”, ressalta Heloísa.
E acrescenta: “O debate não é só para formação de plateia, é pra gente discutir, pra gente levar o público a refletir sobre essas questões e compartilhar conosco, pra fomentar uma discussão sobre o racismo”, completa a atriz.
Quirino afirma que as pessoas que estão assistindo o espetáculo estão saindo de lá refletindo muito sobre essa questão: “Sem maniqueísmos, não existe o bom, o certo, o errado, não. É um assunto que nós estamos tratando para ser discutido de uma maneira tranquila —sem vitimizar o negro. É o assunto sendo discutido de uma maneira contundente e séria”, conclui.
“No Brasil o que existe é um racismo muito hipócrita até”, diz Jô Soares. E conta que certa vez convidou um amigo negro para almoçar e tinha uma empregada negra que se negou terminantemente a servir o seu amigo. “Então você vai ter que ir embora agora!”, despediu-a o apresentador indignado.
“E muita gente ainda acha que no Brasil não há racismo”, observa Jô. “É porque se sustenta ainda hoje a ideia da falsa democracia racial. A ideia de que nós somos todos mestiços —portugueses, índios, africanos, mas quando nossa tez escurece a gente percebe que nós temos um problema e que o racismo faz parte da nossa realidade. A diferença entre o Brasil e os Estados Unidos é que lá eles já estão discutindo essa questão há muito tempo. A discussão sobre o racismo aqui no Brasil é muito recente”, declara Heloísa Jorge.
Quirino explica que na peça “Race” são mostradas situações onde o racismo existe aparentemente livre de preconceito. “Eu, por exemplo, tenho amigos que brincam comigo, tipo: se você não fizer isso direito vou te levar pro tronco! E todos acham que a gente gosta dessas brincadeiras, mas a gente não gosta!”, dá a dica o ator. “Acaba-se reforçando a imagem de que o negro está vinculado com a miséria, com a violência, com a pobreza, com a escravidão”.
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