(Fórum, 05/01/2015) Capa do jornal Folha de S. Paulo desta segunda-feira (dia 5/1) e aqui no Portal Fórum divulgam os dados da pesquisa do Fórum Brasileiro da Segurança Pública que demonstram que jovens negros e negras tem 2,5 vezes mais chances de serem assassinados que brancos. No Nordeste, este indicador chega a 5. Os dados mostram ainda que a taxa de homicídios de de jovens brancos caiu e a de negros aumentou.
Nenhuma destas informações é novidade. A campanha contra o genocídio da juventude negra há mais de dois anos tem divulgado estes dados, o que motivou a campanha e as várias ações realizadas nos últimos anos. Como a mídia hegemônica costuma dar prioridade a informações quando elas vem de fontes oficiais e não de movimentos sociais, o fato destas informações terem sido compiladas por um fórum governamental a pedido do governo federal, ganhou capa da Folha desta segunda. Em agosto, o movimento negro organizou uma passeata contra o genocídio da juventude negra em várias cidades do país e a cobertura da mídia hegemônica foi ínfima, priorizando, como sempre, os problemas do trânsito causados pela passeata.
Fiquei pensando o porquê, de repente, estes dados virarem matéria de capa de um jornal como a Folha de S. Paulo. Uma das explicações foi o fato de ser uma pauta originada de fonte oficial, como afirmei acima. Mas não só isto. Não costumo ler os comentários de matérias em sites, em geral são tão reacionários que dão ânsia. Mas resolvi, por curiosidade, ver como foram as reações (sem trocadilho). Uma delas chamou-me a atenção: a pessoa disse que a matéria demonstrava, com dados, que os nordestinos são mais preconceituosos que os paulistas.
Reli a matéria e notei que o fato dos índices de vulnerabilidade negra nos estados do Nordeste ser maior recebeu destaque. Mais ainda, que o Paraná sulista aparecia como o único estado em que a mortalidade de brancos era maior que a de negros.
Uma leitura rápida por estes dados leva a esta conclusão. Porém, há um dado importante que está sendo omitido nesta cobertura – a participação de afrodescendentes nas populações dos estados é diferente. Por exemplo, se em todos os estados, o percentual de brancos e negros fosse idêntico, o ranking de vulnerabilidade estaria correto. Mas não é o caso.
Ressalto que este comentário não justifica os absurdos índices de violência contra jovens negros. O genocídio racista está presente em todos os estados brasileiros. O que estou questionando é a angulação da mídia hegemônica de que o Nordeste é mais racista que o Sudeste.
Ponderando as taxas de vulnerabilidade de jovens negros com a participação de negros na população de cada estado, segundo o Censo de 2010, o tal “ranking” se modifica e fica da seguinte forma:
Com esta ponderação, observe que os estados do Sul/Sudeste, por terem uma população com menor número de afrodescendentes, não estão em situação tão boa como pode parecer. Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão lá no topo da tabela, o Paraná também vai lá para cima da tabela e no final, há estados de várias regiões.
Assim, o que se conclui é que as variantes raciais do genocídio não acontece exclusivamente no Nordeste, mas em todo o Brasil. O fato dos indicadores do Sul/Sudeste serem melhores decorre do fato da participação de negros e negras na população ser menor. Mas, proporcionalmente, observa-se que a situação pelas bandas aqui não é das melhores.
Acesse no site de origem: Os estados do Nordeste não são os mais racistas, por Dennis de Oliveira (Fórum, 05/01/2015)