Penso, logo existo: Stephanie Ribeiro, diversidade e não ao racismo

03 de agosto, 2016

(L’Officiel, 03/08/2016) Aos 23 anos, Stephanie Ribeiro é exemplo de liderança e militância na nova safra de ativistas nascidos na web. O que começou em meados de 2012 por meio de postagens que exprimiam suas indagações via Facebook, hoje acumula prêmios, medalhas de honra, followers e consciência ‘de dar e sobra’. Confira nossa entrevista e tire quase todas suas dúvidas sobre diversidade, emponderamento e feminismo.

Quando você começou a se interessar pelo assunto e o que mais te incentivou a lutar pela causa? Autodescoberta. Eu não me enquadrava nos mundos que circulava, não conversava muito, era super tímida e fechada. Me achava errante. Os assuntos que envolvem a realidade de outras mulheres negras me ajudam nessa busca do que sou, o que quero, para onde vou. É importante entender que o problema não é você e descobri isso quando fui estudar intelectuais negras, ler escritoras negras, acompanhar e escrever em blogs de mulheres negras… ouvir, trocar e pensar coletivamente com outras mulheres como eu.

Quais são os preceitos básicos para a distinção entre feminismo branco e negro? Acho que ser mulher é uma construção social. Mas quando se é negra a construção social em cima de você engloba tanto a questão de gênero, quanto a questão de raça. Mulheres negras nunca tiveram que lutar para ter que trabalhar, a escravidão foi imposta. Mulheres negras nunca foram vistas como frágeis e, sim, lidas como fortes, que aguentam tudo e suportam mais a dor. Mas isso não é dizer que somos concorrentes, acredito que os feminismos e as feministas deveriam se completar e se apoiar.

Você já trabalhou como modelo, certo? Como foi a experiência nesse mercado? Acho que consigo ter uma noção maior de como as coisas são mais complicadas do que acreditamos. Para uma negra ser o rosto de uma revista é uma luta enorme, não só interna, mas externa. Me tornei modelo porque as pessoas ao meu redor não cansavam de me chamar de feia e minha mãe achou que os concursos de beleza, agências e fotos poderiam me ajudar a achar que não. Entretanto como negra, percebi que existem padrões mais aceitáveis nesses espaços.

Ainda que tenhamos progredido com relação aos padrões de beleza, com as questões da diversidade cada vez mais em voga, quais são os maiores desafios que as mulheres negras enfrentam hoje? Acho que nós temos os mesmos desafios de sempre, sobreviver num contexto de opressões de gênero e raça. Quando falamos de padrões de beleza… por que só as negras se chateavam com a ausência de paquitas negras e a presença exclusiva de mulheres dentro de um padrão que não representa a maioria? Por que só as mulheres e homens negros apontam quando novelas não possuem atores negros, ou se sim, na maioria das vezes interpretando papéis de subalterno? Por que não conseguimos entender que padrões de beleza são construídos e o nosso (no Brasil) é racista, gordofóbico e inacessível?

No cenário digital em que vivemos, quais as ferramentas mais efetivas do empoderamento em prol da diversidade?  As ferramentas digitais são tantas! Elas possibilitam muitas trocas e diálogos e acredito que isso reverbera na conscientização das pessoas.

E por que o empoderamento é tão importante na busca pela diversidade e igualdade? Falamos muito disso mas nem sempre entendemos o quão subjetivo é. Para muitos, empoderamento é só quando lemos vários livros, lideramos várias marchas e nos destacamos na militância. Na cerne do que significa o termo pautado pela primeira vez por ativistas, o empoderamento é a busca por uma sociedade mais justa para todos e tem cunho coletivo. Só que para mim, ele tem uma carga individual que é um fato: uma moça negra com um canal no YouTube onde ela mostra seus cabelos crespos e a forma de cuidar. Parece algo apenas estético e algo que ela faz só para si, mas tem um impacto para outras garotas como ela.

No ano passado, você recebeu a Medalha Theodosina Ribeiro. Qual é a importância desse tipo de reconhecimento para você? Não me sinto fazendo algo errado. Ainda hoje me cobro muito, acho que sou louca, que estou vendo problemas onde não existem. Um prêmio como esse me fez confiar que não sou tão louca assim (risos) e que tem muita gente acreditando que a sanidade é confrontar a naturalização de uma sociedade tão opressora para muitos. Mulheres negras precisam ser apoiadas e reconhecidas. Não podem mais apagar nossas histórias e silenciar nossas vozes.

Como as mulheres devem se portar para respeitar o lugar de fala das mulheres negras? Escutar. Falam muito de empatia e não entendem que para que isso acontecer é necessário a abertura do outro. As pessoas precisam se abrir, aceitar, se inquietar e fazer algo. Não basta achar que interseccionalidade é dizer: “negros morrem mais”. Precisamos efetivar o interseccional e a empatia. Para isso, todas as mulheres também precisam falar de racismo, repensar seus conceitos e agir para incluir negros nos espaços que elas conseguem estar.

Bia Gomes

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