O racismo estrutural e institucional dentro dos serviços de saúde é uma das possíveis explicações.
(Dr. Drauzio Varella | 17/09/2021 | Por Rafael Machado)
A violência obstétrica pode ocorrer no acompanhamento antes, durante ou após o parto, seja com a mãe ou com o recém-nascido. Ela acontece quando os profissionais de saúde negam atendimento, não informam corretamente a paciente sobre os procedimentos e possíveis usos de medicamentos, impedem o direito à presença de um acompanhante, desrespeitam as escolhas da gestante, ofendem verbalmente, ameaçam e até cometem violências físicas.
Essas violências podem ocorrer com qualquer mulher, mas a raça influi diretamente no risco de sofrer violência obstétrica. O racismo faz com que algumas práticas discriminatórias sejam comuns no dia a dia da população negra e afeta, também, o atendimento às gestantes negras (pretas e pardas, de acordo com as definições do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE).
“O serviço privado atende pacientes majoritariamente brancas, e essas mulheres estão mais sujeitas à violência obstétrica por cesáreas desnecessárias e uso de ocitocina [hormônio que promove as contrações uterinas]. Em compensação, as mulheres negras em sua maioria são atendidas pelo SUS, e estão sujeitas a outros tipos de violências”, explica Marjorie Chaves, coordenadora do Observatório da Saúde da População Negra (PopNegra), mestre em história e doutoranda em política social pela Universidade de Brasília.
A elaboração da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, criada em 2009, foi um avanço no debate acerca do tema, mas sua implementação ainda não foi feita em todo o país. Dados levantados pela organização de mídia Gênero e Número revelam que somente 28% dos municípios do país haviam colocado a política em prática em 2019.
“O Estado reconhecer que existe racismo estrutural é importante para a gente discutir a saúde da população negra. Mas houve desmontes de 2016 pra cá, nos governos Temer e Bolsonaro”, aponta a coordenadora do Observatório.