Uma lei contra os estereótipos de gênero, por Priscilla Bacalhau

01 de novembro, 2024 Folha de S. Paulo Por Priscilla Bacalhau

Currículos escolares têm de incluir as contribuições femininas em ciências, artes, cultura e política

Pai e filho sofrem um acidente de carro, o pai morre no local e o filho é socorrido às pressas. No hospital, a pessoa mais competente do centro cirúrgico diz: “Não posso operar este menino, ele é meu filho”.

No enigma que volta e meia circula na internet, surgem variadas respostas: a pessoa mais competente era avô, padrasto, pai biológico, pai reencarnado ou foi Deus. Para muitas pessoas, a surpresa vem ao descobrir que a resposta correta era “mãe”.

Esse experimento da internet, embora anedótico e sem validade científica, ilustra a dificuldade de reconhecer mulheres em papéis de destaque. Está coerente com evidências e com os preconceitos que elas encaram para ter seus feitos reconhecidos.

Mesmo com desempenho superior em várias métricas acadêmicas, mulheres enfrentam barreiras para entrar e permanecer no mercado de trabalho. Segundo relatório da OCDE de setembro, a taxa de conclusão do ensino superior para mulheres entre 25 e 34 anos é de 28% no Brasil, enquanto para homens é de 20%.

Mulheres com ensino superior recebem em média 75% dos salários dos homens, disparidade mais ampla que a média na OCDE, de 83%. A desigualdade persiste em níveis de escolaridade mais baixos: entre as jovens com escolaridade até o ensino médio, só 44% estão empregadas, comparado a 80% dos jovens homens.

Reconhecendo essas disparidades e sua relação com os estereótipos de gênero, foi sancionada a lei 14.986/2024, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A nova lei obriga incluir nos currículos escolares as contribuições femininas nas ciências, artes, cultura e política e institui a Semana de Valorização de Mulheres que Fizeram História, a ser realizada anualmente em março em todas as escolas. A iniciativa visa inspirar meninas a ocuparem posições de liderança em diversas áreas e promover a valorização da trajetória feminina por todas e todos.

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