Universidades brasileiras não estão preparadas para lidar com violência sexual

20 de março, 2019

Investigação #PasóEnLAU evidenciou que de 6 instituições pesquisadas apenas uma possui um protocolo para prevenir casos e orientar vítimas.

(Diario de Pernambuco, 20/03/2019 – acesse no site de origem)

Uma investigação jornalística transnacional, realizada por profissionais de 16 países, mostrou que a América Latina ainda precisa avançar muito quando o assunto é violência de gênero dentro das universidades. A reportagem #PasóEnLaU mostrou que, de 100 universidades listadas, 60% não possuem um protocolo de prevenção de casos de assédio e violência sexual, proteção às vítimas e punição dos assediadores. As instituições que compõem o material representam 22,5% de todas as matrículas estudantis na América Latina e no Caribe. Seis instituições brasileiras fazem parte do levantamento, das quais apenas uma afirmou possuir um protocolo.

A investigação, encabeçada pelo veículo mexicano Distintas Latitudes e realizada pelos integrantes da 3ª Geração da Rede Latam de Jovens Jornalistas, evidenciou que das brasileiras analisadas apenas a Universidade de São Paulo (USP) tem um documento de orientação para as vítimas. As Universidades Paulista (UNIP), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), Universidade Norte do Paraná (Unopar) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não têm um protocolo ou sequer responderam às demandas dos jornalistas.

O Brasil compõe a lista de países com os piores resultados da investigação. Das 54 universidades investigadas no Brasil, Bolívia, Cuba, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Paraguai e Venezuela, somente cinco delas contam com protocolos contra assédio e violência sexual. Foram consultadas universidades dos seguintes países: Argentina (8), Bolívia (6), Brasil (6), Chile (6), Colômbia (6), Costa Rica (6), Cuba (6), Equador (6), El Salvador (6), Guatemala (6), Honduras (6), México (8), Nicarágua (6), Paraguai (6), Peru (6) e Venezuela (6). Em cada país, a metade das universidades foi escolhida em função do número total de matrículas e a outra metade selecionada segundo o ranking QS, que avalia a qualidade do ensino, com dados de 2017 a 2019.

Do total, 40% das universidades não contam com protocolos para prevenir, proteger e punir a violência sexual, outras 36% não têm uma política específica e 24% não responderam as perguntas realizadas pelos 35 jornalistas envolvidos na investigação. Outro dado interessante evidenciado na investigação mostra que há um espaçamento na criação de documentos do gênero na região. O mais antigo deles é de 1997, da Costa Rica. Levou 13 anos até que outra universidade tivesse a mesma iniciativa. Entretanto, em 2015, depois da primeira mobilização #NiUnaMenos (Nenhuma a Menos), na Argentina, é que foi impulsionada a criação de mais protocolos.

Um total de 75% deles foram criados entre 2015 e 2018. Para os envolvidos na reportagem, o número revela a relação evidente entre o crescimento das ondas feministas e da pressão social e midiática diante do tema e a geração de normativas públicas dentro das universidades sobre o assédio e a violência sexual. O material completo pode ser lido, em espanhol, no site.

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