Violência e machismo nas universidades, editorial Folha Web

25 de novembro, 2014

(Folha Web, 25/11/2014) Foi preciso que as denúncias de estupro, abuso sexual e preconceito na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) chegassem à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa daquele Estado para que a direção da mais importante instituição de ensino superior do Brasil encarasse uma situação séria e constrangedora. A humilhação contra calouras sempre existiu nas festas de “boas vindas”, mas as queixas das vítimas não tinham sido suficientes para derrubar o manto do silêncio que cobria professores e veteranos. 

Somente agora, depois do caso chegar aos veículos de comunicação, a Polícia Civil indiciou um homem acusado de estuprar uma caloura de medicina da USP em uma festa de 2011. O Ministério Público (MP) analisa oito denúncias de abuso sexual naquele curso. Após o escândalo ganhar publicidade, a direção da faculdade proibiu as festas no campus. 

É impossível não questionar como esses crimes acontecem nas calouradas do melhor curso de medicina do País. Não é o comportamento que se espera da elite intelectual que passou pelo vestibular mais concorrido da nação. Se o futuro médico vê assim as suas colegas de faculdade, de que maneira ele vai considerar o paciente? 

Ignorar os relatos das vítimas que sofreram violência física e moral não é a atitude que se espera do corpo acadêmico das universidades brasileiras, instituições que devem acolher seus alunos, funcionários e a comunidade com justiça e respeito. 

Por conta disso, é importante a iniciativa de um grupo de acadêmicas do curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina (UEL) em criar o Coletivo Feminista Mietta Santiago. Um dos objetivos é justamente combater a cultura do estupro e situações humilhantes impostas às calouras durante as festas do curso. 

As estudantes que têm coragem em denunciar esse comportamento abusivo devem encontrar apoio nas universidades. Infelizmente, as instituições têm se mostrado omissas em coibir a violência física e psicológica nos trotes e festas universitárias. O silêncio da comunidade universitária não é resposta para o comportamento machista, preconceituoso e violento de seus alunos.

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