O lançamento da 4ª pesquisa do Instituto Marielle Franco, intitulada “Regime de Ameaça: Violência Política de Gênero e Raça no Âmbito Digital”, será realizado no Salão Nobre do Congresso Nacional, às 19h, no dia 27 de agosto
O uso das tecnologias digitais para perpetuar a violência política contra mulheres negras é o foco da 4ª pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco: “Regime de Ameaça: Violência Política de Gênero e Raça no âmbito digital”. A necessidade de aprofundar o tema surgiu já na primeira publicação1 que apontou que 78% das entrevistadas foram alvo de violência na internet, sendo esta a forma mais recorrente de agressão a essas mulheres. Os dados revelaram a urgência de investigar a violência política digital contra mulheres negras no Brasil.
Nos últimos anos o ambiente digital consolidou-se como um dos principais campos de agressão política, no qual campanhas de desinformação, discursos de ódio, discriminação, ameaças e vazamento de dados figuram entre as formas de ataque dirigidos às mulheres negras. Diante da centralidade do espaço digital na reprodução da violência política, o objetivo da pesquisa foi examinar tais práticas de exclusão das mulheres negras dos espaços de poder, que levam à deterioração da democracia.
A análise busca qualificar o debate a partir de uma perspectiva decolonial, antirracista e feminista negra. O estudo foi realizado a partir da análise e sistematização de 77 casos de violência política de gênero e raça, acompanhados pelo Instituto Marielle Franco, Justiça Global e Terra de Direitos, entre junho de 2021 e julho de 2024.
O relatório demonstrou que a violência política de gênero e raça não é um fenômeno excepcional; pelo contrário, constitui-se como um projeto político e social de exclusão de mulheres negras dos espaços de poder. Ela é usada como ferramenta de advertência e punição às mulheres que desejam disputar o poder com aqueles historicamente em posições de autoridade.
Para mulheres negras e LGBT+ na política, o ambiente digital é tanto espaço de atuação quanto de ataques violentos, como apontam os dados do VoteLGBT. Segundo as autoras “ao reconhecer que a violência política digital é estruturada por marcadores de raça, gênero e sexualidade, ampliamos nossa capacidade de enfrentamento — deslocando o foco da individualização do sofrimento para a responsabilização coletiva e institucional.”
Para Twig Lopes, a violência digital tem sido usada para desestimular a atuação política de mulheres e impactar sua saúde física e emocional. Logo, “o enfrentamento à violência política de gênero e raça, especialmente quando facilitada pelas tecnologias digitais, exige uma abordagem integrada que reconheça a centralidade dos direitos humanos, da igualdade substantiva e da interseccionalidade nas reformas legais.”