“Talvez seja mais perigoso ser mulher do que soldado, num conflito armado”, disse o militar norte-americano Patrick Cammaert, que conquistou notoriedade pelo comando das tropas de paz da ONU durante guerras como da Bósnia-Herzegovina e as ocorridas na República do Congo.
A violação sexual de mulheres em zonas de combate tem registros antigos e persiste até hoje, como tem sido denunciado na Rússia, Ucrânia, Sudão, Myanmar, Síria, Quênia, Somália, Paquistão, Afeganistão, Equador, Venezuela, Líbano, Palestina e Israel. Abrange não somente estupro, mas também escravização sexual, casamento forçado e constrangimento à prostituição.
Apesar de facilitado pelo colapso das leis e das instituições formais que costuma ocorrer nas guerras, somado à cultura militar masculinizada, o estupro de meninas e mulheres, neste contexto, nada tem de incidental.
Ao contrário, é utilizado com fins políticos, que podem variar entre controle de agressividade de soldados ou medida de “recompensa”, com mulheres tratadas como “despojos de guerra”, mecanismo de disseminação de terror para deslocamento da população e limpeza étnica. Estão na mira, ainda, a destruição da identidade do povo inimigo e a desestabilização social, já que, em muitas sociedades atingidas pelos conflitos, mulheres acabam abandonadas à própria sorte, estigmatizadas, após serem vítimas da violência extrema.
Na Primeira Guerra Mundial, militares alemães espalharam terror na invasão da Bélgica, estuprando mulheres belgas; soldados turcos estupraram armênias no genocídio de 1915; a escravidão sexual foi corrente em conflitos na Ásia, quando coreanas, filipinas, malaias, indonésias e tailandesas foram violadas pelas tropas japonesas, que também estupraram as chinesas no trágico episódio “Estupro de Nanquim” de 1937.