Ruth Coppinger exibiu calcinha para mostrar insatisfação contra cultura de culpabilização da vítima
(O Globo, 14/11/2018 – acesse no site de origem)
Durante sessão do Parlamento irlandês nesta quarta-feira, a deputada Ruth Coppinger aproveitou o momento em que tinha a palavra para realizar um protesto: da manga, retirou uma calcinha de renda, exibindo-a para todo o plenário.
— Certamente é constrangedor mostrar uma calcinha neste lugar. Como vocês acham que uma vítima de estupro deve se sentir quando sua roupa de baixo é descrita em um tribunal? — indagou a deputada aos colegas.
O protesto de Coppinger faz parte de uma série de atos que tomam força na Irlanda desde que um homem de 27 anos foi absolvido da acusação de estupro contra uma adolescente na cidade de Cork. A decisão, tomada unanimemente por um júri de oito pessoas no dia 05 de novembro, teve uma grande repercussão após os relatórios da sessão terem mostrado que a advogada do réu alegou que a relação foi consensual. Como prova, a roupa íntima da adolescente de 17 anos foi descrita pela advogada de defesa.
“Vocês precisam considerar a maneira que ela estava vestida. Ela estava usando uma calcinha de renda”, diz a advogada, Elizabeth O’Connell, segundo os registros da sessão. De acordo com o discurso da parlamentar, essa atitude alimenta a “cultura de culpabilização da vítima”.
A advogada também relativizou as acusações da adolescente, dizendo que não se pode excluir a possibilidade de que ela poderia querer ter relações sexuais com seu cliente, uma vez que estava usando esse tipo de roupa de baixo, em uma alegação de que seria um vestuário sugestivo.
Ainda nesta quarta-feira, protestos “contra a cultura do estupro” foram convocados em diversas cidades da Irlanda, como a capital, Dublin, e Cork, onde 200 pessoas marcharam com calcinhas nas mãos e cartazes contra a decisão da última semana. Dezenas de roupas de baixo foram colocadas de frente a monumentos.
De acordo com o Centro de Crise para Estupros de Dublin, organização que luta contra o estupro na Irlanda, o sistema legal frequentemente considera que situações como essa, de culpabilização da vítima a partir de peças de roupa, como comuns, e que esse tipo de cultura deve ser combatida.