O que é o estupro facilitado pela tecnologia – e por que é três vezes mais comum entre adolescentes

21 de novembro, 2024 g1 Por Gabriella Ramos

Prevalência foi revelada em estudo conduzido por psiquiatras da Unicamp a partir da análise de 1,1 mil prontuários de vítimas de violência sexual atendidas no hospital da universidade.

Uma pesquisa conduzida por psiquiatras revelou que, para parte das adolescentes vítimas de abuso sexual atendidas no Hospital da Mulher da Unicamp (Caism), em Campinas (SP), as redes sociais deixaram de ser um passatempo e se tornaram facilitadoras da violência.

Isso porque meninas de até 17 anos apresentaram relatos três vezes mais frequentes de estupro facilitado pela tecnologia do que mulheres adultas. Vale ressaltar que os números consideram o período de 2011 a 2018, e a tendência é que sejam ainda maiores na atualidade, segundo as pesquisadoras.

E o que isso significa? Segundo a psiquiatra Maria Teresa Ferreira Côrtes, o termo “estupro facilitado pela tecnologia” abarca uma série de violências sexuais que ocorrem por meio das mídias digitais, como o stalking e o compartilhamento de material íntimo.

“No nosso caso, em específico, a gente olhou para um dado que era quando a violência sexual começou num ambiente digital. Então, quando o uso de um aplicativo começou e deu início ao contato entre o agressor e a vítima, e esse contato depois acabou resultando em um estupro”, explica.

Com base na pesquisa de mestrado de Côrtes, orientada pela professora Renata Cruz Soares de Azevedo, o g1 publicou nesta semana três reportagens sobre as características sociodemográficas e psicológicas da violência sexual, além do impacto das redes sociais para as vítimas adolescentes.

O estudo analisou 1.133 prontuários de mulheres vítimas de violência sexual atendidas pelo serviço de saúde no período. Os dados mostraram, por exemplo, que quatro em cada 10 pacientes tinham até 17 anos, e 20% das vítimas relataram ter sofrido abuso anteriormente.

Álcool e psicoativos
A professora Renata Azevedo detalha que as violências relacionadas à vida digital são consideradas novas e, por isso, os dados ainda eram escassos no período analisado. A vivência das médicas no ambulatório indica que cerca de 20% das adolescentes atendidas relatam interferências da tecnologia atualmente.

“Os estupros que começaram por aplicativo, pelo amigo do amigo que conheceu digitalmente, aquela ideia de que, como eu já estou conversando há uma semana, parece que eu já conheço essa pessoa, e aí no primeiro encontro isso se transforma. Isso é uma coisa muito moderna, a gente não tinha esses registros há um tempo, e estamos começando a olhar agora”, diz.
Outro ponto que chamou a atenção das pesquisadoras foi a relação entre o uso de álcool e de psicoativos ilícitos e as violências sexuais. “Nos surpreendeu a ausência de diferença na taxa de uso de substâncias entre as adolescentes e as adultas. A gente esperaria que nas adolescentes fosse muito menor”.

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