O TJDFT realizou, por meio de sua Escola de Formação Judiciária, o webinar “Percepções quanto ao impacto das notícias nos envolvidos em processos judiciais”, na manhã desta terça-feira, 23/6. O evento, transmitido ao vivo por meio da plataforma Zoom, faz parte do curso “Desafios da cobertura jornalística sobre violência contra a mulher”, voltado, preferencialmente, para jornalistas e estudantes de jornalismo.
A atividade desta manhã teve como foco discutir trabalhos entregues pelos participantes no decorrer do curso. Tais trabalhos consistiram em matérias jornalísticas sobre temas específicos dentro do universo de cobertura da imprensa sobre violência doméstica.
A jornalista Marisa Sanematsu, diretora de conteúdos e editora-chefe da Agência do Instituto Patrícia Galvão, parabenizou a qualidade das matérias e afirmou que todos os participantes estavam habilitados para contribuir com uma correta divulgação da violência contra a mulher nos veículos de imprensa.
Nesse contexto, ela destacou a importância da divulgação de serviços de proteção à mulher, de forma que a imprensa não apresente apenas o problema, mas também mostre soluções. Além disso, ressaltou a necessidade de uma abordagem que vá além dos casos que terminam em feminicídio, voltando o olhar também para as violências cotidianas. “Esses casos de agressões físicas e psicológicas são a maioria, fazem parte do cotidiano de milhares de mulheres, e eles podem informar a sociedade sobre como amparar as vítimas, mostrar formas de sair dessa condição e ajudar a diminuir os casos de feminicídio”, afirmou a jornalista.
A assistente social Lianne Carvalho de Oliveira, do Núcleo de Assessoramento sobre Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher – NERAV do TJDFT, compartilhou sua experiência de trabalho com os atendimentos às vítimas. Ela abordou os motivos que levam as mulheres a solicitarem a revogação das medidas protetivas e os aspectos afetivos, emocionais, psicológicos e culturais envolvidos na decisão de não denunciar os agressores.
Aos jornalistas participantes, a assistente social pediu muito cuidado ao abordarem as revogações das medidas protetivas. “É previsível a ambiguidade de sentimentos nesse momento, a dependência emocional da mulher em relação ao homem. Mulheres sentem muita culpa por terem denunciado. Muitas vezes elas não querem a prisão. Querem a proteção, mas acima de tudo, querem que o homem mude”, explicou.
A última fala coube à juíza Gislaine Carneiro, do Núcleo Judiciário da Mulher – NJM do TJDFT. Ela destacou que nunca é fácil falar sobre violência doméstica em virtude da complexidade do assunto. “O assunto é delicado em todas as etapas: no atendimento psicossocial, no atendimento policial, na sala de audiência… Violência doméstica deve ser trabalhada no caso concreto”, esclareceu a magistrada, que também chamou atenção dos jornalistas para a necessidade de dar publicidade aos casos de violências menos graves, por uma questão de representatividade.
“Quando as matérias jornalísticas abordam apenas os casos de feminicídio, as mulheres não se sentem representadas, porque acreditam que seus companheiros nunca serão capazes de fazer aquilo. A gente ouve isso na sala de audiência. Quando se noticiam casos menos graves, você alcança maior número de pessoas que acreditam que não vão ser mortas, mas estão sofrendo violência psicológica, física e sexual”, pontuou a juíza.
Ao final, os participantes puderam tirar dúvidas com as expositoras. A próxima etapa do curso, consistente na realização do webinar “Meios de comunicação e a reprodução dos estereótipos de gênero”, irá ocorrer no dia 30/6, e contará com a representante da ONU Mulheres Isabel Clavelin.
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