Jovens negros têm três vezes mais chances de serem assassinados no Brasil

28 de janeiro, 2015

(Jornal do Brasil, 28/01/2015) As chances de um adolescente negro ser morto no Brasil é cerca de três vezes maior que de um adolescente branco. Isto é o que afirma o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), elaborado numa parceria entre o Unicef, o Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o governo federal e a ONG Observatório das Favelas. Ainda de acordo com o estudo divulgado nesta quarta-feira (28), é estimado que 42 mil adolescentes morram até o ano de 2019 se não forem tomadas providências contra a violência crescente.

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“A questão da violência no Brasil é voltada para um perfil de três “p”: pobre, preto e da periferia”, afirmou a secretária especial dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti. O IHA revelou que 36% das causas da morte de jovens no Brasil são por conta de assassinatos. O representante da Unicef, Gary Stahl, afirmou que a cada hora morre um adolescente negro no país. Segundo ele, o número só fica atrás da Nigéria. “Nenhum assassinato de adolescentes ou jovens deve ficar sem inquérito policial”, completou.

Os estados brasileiros que apresentaram maior número de assassinatos de jovens e adolescentes foram Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Paraíba. O município de Itabuna, na Bahia, foi considerado o estado mais perigoso. Já a capital que tem o número mais alto é Fortaleza (CE). O estudo também revelou que a probabilidade de um menino morrer é 12 vezes maior que a das meninas.

Os índices de violência letal em estados nordestinos aumentou em comparação com o restante do país. “O crime organizado busca onde há mais dinheiro, e o PIB do nordeste cresceu. Para eles, não há fronteiras entre um estado e outro”, informou Ideli Salvatti. O professor Ignácio Cano, do LAV-Uerj, acrescentou que uma explicação para o aumento desses números na região pode o crescimento econômico e demográfico rápido na região. “Nas áreas em que há a redução da pobreza, a violência aumentou. Os dados que nós temos é que a violência cresce nas áreas de rápido crescimento econômico, o que não é uma explicação definitiva”, disse o professor. “O processo de eliminação da desigualdade é progressivo”, explicou Ideli. “A política pública não implicou imediatamente a diminuição da violência, já que ela possui muitas causas”, disse. Para a ministra de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes, são necessárias ações mais concretas para que hajam resultados melhores. “Nós temos um quadro que precisa de mais ações e intervenções, para que daqui a algum tempo nós possamos olhar para esses números e discutir novamente esse assunto e termos resultados e perspectivas melhores.”

Uma das ações do governo para combater o crescimento da violência no Brasil é a PEC proposta pela presidente Dilma Rousseff de integração das forças públicas estaduais e federais. O objetivo é criar centros integrados de Comando e Controle para que haja um combate único da violência no país. Sobre a questão das balas perdidas, a secretária Ideli Salvatti admitiu que é uma das “questões fundamentais”. “É impossível enfrentar casos desse tipo [bala perdida] sem a integração das forças de segurança no Brasil.”

O diretor do Observatório de Favelas, Jorge Barbosa, destaca a necessidade de mudanças. “A previsão de perder 42 mil adolescentes entre 2012 e 2019 é alarmante. Precisa ser considerado por todos nós como inaceitável”, afirmou. O diretor, ao falar sobre o novo slogan proposto pela presidente, “Pátria Educadora”, afirmou: “Nós não teremos uma pátria que educa se não tivermos uma redução da violência letal contra jovens e adolescentes. A agenda da valorização da vida deve ter metas de redução da violência.”

A ministra de Nilma Lino Gomes acrescentou que, na reunião da presidente Dilma com os seus ministros, a violência foi um ponto que terá atuação conjunta dos ministérios. “É preciso pensar em questões interministeriais para combater as mortes, principalmente em relação ao racismo”, disse.

A pesquisa divulgada nesta quarta-feira revelou ainda que a média de assassinatos de jovens no Brasil é de 3,32 a cada mil jovens. A pesquisa foi feita nos 288 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes e tem como base os censos 2000 e 2010. O IHA faz parte do Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens (PRVL).

Matheus Ferre

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