Conhecida como “stealthing”, prática de tirar camisinha sem permissão deixa mulheres vulneráveis a impacto físico e emocional
(UOL – Universa | 04/10/2021 | Por Nathália Geraldo)
“Uma vez, ele tinha forçado a barra para transar sem camisinha. Cedi. Da última vez que transamos, começamos com o preservativo. Foi só mudar a posição, ele tirou. Parei na hora, falei para ele sair de cima de mim e disse: ‘Você não tem o direito de escolher por mim’. Ele disse que se estivesse preocupada com doenças, faria os exames para me mostrar que não tinha. Me senti desrespeitada, foi um abuso sexual o que sofri”.
O relato da empreendedora Fernanda*, de Belo Horizonte, descreve a prática de stealthing. É um nome em inglês que define a violência sexual de o homem tirar o preservativo durante a relação sexual sem que o parceiro ou a parceira perceba, alegando que a camisinha atrapalha, que é apertada demais ou que a sensação sem o preservativo é melhor para a transa.
Há pelo menos três desdobramentos quando isso acontece sem a permissão do outro: a preocupação com a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), o surgimento de traumas emocionais e psicológicos, que podem complicar a vida afetiva e sexual, e a possibilidade de seguimento na esfera criminal, para que a pessoa pague na Justiça pelo que fez. Segundo a advogada Luciana Terra, diretora jurídica do Movimento Me Too Brasil e liderança do Justiceiras, a prática pode ser considerada como violação sexual mediante fraude e, dependendo do contexto, estupro.
“Se fosse o contrário, eu, uma mulher, tirando a camisinha, iriam dizer que estava querendo engravidar para ficar com o dinheiro dele. Mas, algumas pessoas que contei isso tentaram minimizar a questão. Um amigo chegou a pergunta: ‘E você gostou?’. Como vou ter gostado de ter sido abusada?”, disse Fernanda, em entrevista para Universa.