(UOL | 29/10/2021 / Por Kelly Fernandes)
Nessa semana, dei uma entrevista para uma pesquisadora cuja missão é mapear planos de mobilidade urbana que tratam de questões de gênero. Antes de entrar em detalhes, para que estejamos na mesma página: planos de mobilidade compõem o principal mecanismo de planejamento do sistema de transporte público integrado ao desenvolvimento social, econômico e ambiental. No Brasil, todas as cidades com população superior a 20 mil habitantes e outras enquadradas na Lei 12.587/2012 precisam fazê-los.
Para explicar o conceito de gênero, recorro à Joan Scott. Segundo a historiadora estadunidense, gênero é “um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos […] é uma forma primária de dar significado às relações de poder”.
Ao colocar mobilidade e gênero lado a lado, reconhecemos que a imposição de papéis sociais e culturais construídos para mulheres — como a responsabilização por atividades de cuidado de crianças, idosos, alimentação etc.—, condicionam e moldam seus padrões de deslocamentos, podendo torná-los mais longos, perigosos, caros e cansativos.
É importante dizer que olhar para padrões de mobilidade sob a perspectiva do gênero requer abordagens interseccionais, termo cunhado por Kimberlé Crenshaw. De acordo com Leslie Kern, autora do livro “Cidades Feministas – a luta por um espaço em cidades desenhadas por homens”, Crenshaw “levou a uma mudança radical na forma como o feminismo entendia as relações entre vários sistema de privilégio e opressão, incluindo sexismo, racismo, classicismo, homofobia e capacidade social”.
Com tudo isso em mente, voltemos para a conversa inicial. A pesquisadora me procurou pois encontrou meu nome na ficha técnica de um dos relatórios produzidos durante a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana de Cacoal -RO, com o qual colaborei entre os anos de 2017 e 2018 coordenando as etapas de trabalho para sua realização.