(Correio Braziliense | 22/01/2022 | Por Marcos Paulo Lima)
A semana na qual Robinho foi condenado em última instância pela Corte de Cassação da Itália, equivalente ao STF, a nove anos de prisão por violência sexual em grupo a uma albanesa, termina com a perda de uma das vozes mais agudas do Brasil na cobrança pelo respeito à mulher. Elza Soares cantou até a morte, aos 91 anos, contra o que há de pior no machismo — inclusive na conturbada relação com Mané Garrincha. Assim como o ex-Rei das Pedaladas, o Anjo das Pernas Tortas driblou limites.
O mesmo Mané capaz de prometer a Elza o bicampeonato do Brasil na Copa do Mundo do Chile, em 1962, de romper com a então namorada, Araci, e com a mulher, Nair, para viver com Elza no fim daquele ano, foi capaz de agredi-la. Vítima de violência doméstica, com direito a dentes quebrados, a artista cansou de apanhar. Até denunciou, mas logo recuou diante do medo de que o amor da vida dela fosse preso por quatro anos.
Elza tinha 44 anos. Anulou-se para preservar Mané. Era o último gesto da mulher em defesa de Garrincha. O capítulo derradeiro da saga pessoal pela recuperação não somente do jogador, mas do ser humano pelo qual fez de tudo e mais um pouco.
Elza lutou por melhores contratos, pediu ao governo emprego para o empobrecido parceiro, exilou-se com ele, em Roma, na ditadura, e superou até o acidente que matou a mãe dela. Mané dirigia bêbado na tragédia que ceifou Dona Josefa. Antes da união com o craque, comprou briga até com Nilton Santos e quem mais a chamasse de amante do craque ou destruidora de lares por ter virado a cabeça do Mané.