Número de parlamentares autodeclarados negros cresce, mas fraudes, desinformação e violência política e eleitoral ameaçam a representatividade de raça e gênero
As eleições de 2022 foram marcadas por uma onda de candidaturas de mulheres, negros e negras, quilombolas, indígenas e pessoas LGBTQIA+ por todo país. Impulsionados pelo agravamento das condições de vida da população – crescente empobrecimento, fome, baixo investimento em políticas públicas, crises sanitária, ambiental e política – esses seguimentos priorizaram, em grande medida, candidaturas aos legislativos estaduais.
Entre os muitos objetivos dos pleitos, destacam-se os movimentos para barrar retrocessos nos direitos sociais já conquistados, garantir representatividade racial e de gênero, além de orçamento para promoção de políticas de proteção social.
Diferente de outras eleições, esse ano as lideranças construíram redes e plataformas de formação e gestão das campanhas para trocar experiências políticas, vinculando-se às pautas dos movimentos negros, de mulheres, LGBTQIA+ e luta pela terra. Essa estratégia ampliou os canais de diálogo com as instituições de pesquisa e direitos humanos, gerou dados, e fortaleceu os setores de comunicação e proteção jurídica dos comitês populares.
Mesmo com a diversificação das opções de candidaturas no campo progressista, o resultado eleitoral não tornou as casas legislativas estaduais imediatamente mais diversas.
Mudanças nas regras eleitorais, que passaram a vincular a distribuição do fundo partidário e tempo de TV ao incentivo de candidaturas negras, além de cotas para candidaturas de mulheres, foram tímidas em seus resultados quanto ao potencial de transformação da representatividade política.
Para Marcelle Decothe, que é gestora de programas do Instituto Marielle Franco, “[…] a guerrilha digital de fake news e a desinformação se destacaram neste período eleitoral. Majoritariamente candidaturas com agendas de defesa de direitos humanos e de populações vulnerabilizadas foram alvos de discursos distorcidos produzidos pela extrema direita[…]”.