Luis Felipe Miguel, professor na UnB, afirma que a ideia de democracia política está em crise como resultado de uma ausência de democracia social
A ideia de democracia está em crise. Causas? Uma das principais é a ausência de democracia social, ou dito de outra forma, a existência de desigualdades e a dificuldades no acesso a serviços essenciais.
Segundo essa análise de Luis Felipe Miguel, professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília), isso levou a conflagração nos últimos tempos pelo mundo afora porque os regimes democráticos passaram a cada vez menos responder às demandas da população.
Para ele, as pessoas se sentem ameaçadas porque os seus valores maiores estão sendo atacados.
A partir da incapacidade dos governos de reduzir as desigualdades, cresce também o papel social das igrejas. E o poder político de alguns de seus representantes. Abalando, assim, o conceito de separação de religião e política.
“O mais grave é que essa entrada da religião perverte o debate público. Vimos no segundo turno um debate sobre coisas fantasiosas, como satanismo e quem é mais cristão. As questões centrais em termos de projeto de país não têm espaço porque há esse uso político da religião”, avalia.
Setores que têm discurso antissistêmico, como os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirma o professor, “ao mesmo tempo em que cooptam as pessoas, eles meio que blindam contra a realidade”. “Porque [esses indivíduos] estão inseridos em bolhas em que as pessoas repetem os maiores absurdos e não são confrontadas.”