Quantos líderes homens você já ouviu falar sobre seus limites para exercer o tão cobiçado poder?
Quem lembra de Jacinda Ardern interrompendo uma live para colocar a criança para dormir?
Falo sobre uma das reflexões que fiz quando decidi não concorrer e que acho válida. Quando a gente toma uma decisão importante nunca decide baseado em uma única razão, né? Mas essa certamente foi determinante para mim.
Muitas vezes eu respondia aos meus interlocutores que me provocavam para concorrer ao Senado nas eleições de 2022: ‘Olha, minha filha precisa de mim nesse momento, não foi fácil o que vivemos no último período’. Eles interpretavam isso como um gesto equivocado meu. Como se eu estivesse cedendo aos ataques ou virando uma pessoa menor.
Claro, eu entendo as razões para que ninguém fale sobre família quando um homem político se movimenta no cenário como quem joga xadrez. Mas esse pra mim também é um tema. Ir para Brasília causa impacto na vida das famílias dessas pessoas. Ocorre que, na maior parte das vezes, essas pessoas são homens que não calculam esses impactos na vida de suas esposas e crianças.
Volto a 2016, quando não concorri, ou a 2018, quando ouvi de um homem que minha filha me acompanhava demais. Quem cuidava das crianças dele em suas longas ausências de 15, 20 dias? Eu vivo em uma casa em que responsabilidades afetivas e com cuidados são compartilhadas. Sei que essa não é a realidade da maioria das mulheres. Sei que a forma como Duca, meu marido, assume essa jornada, não lembra em nada a realidade de praticamente nenhum dos homens com quem cruzei na jornada política.