Na contramão do Brasil, segundo país com maior proporção de cesáreas do mundo, profissionais incentivam parto normal
Ela era uma criança de nove anos e lágrimas nos olhos quando aparou um recém-nascido em suas mãos negras e pequenas pela primeira vez. Era uma noite chuvosa quando sua mãe entrou em trabalho de parto. O pai saiu para buscar a parteira, dona Bina, mas não chegaram a tempo de ver a criança nascer.
Hoje, Floriceia Carvalho das Neves, ou simplesmente Flor, tem 65 anos, 47 afilhados e centenas de crianças que ajudou a trazer ao mundo na comunidade quilombola da Ilha de Maré, região insular de Salvador sem ligação rodoviária com continente.
Parteira de profissão, Flor faz parte de uma legião de trabalhadoras que, mesmo encaradas como líderes em suas comunidades, batalham por mais visibilidade da porta para fora. Para isso, atuam para difundir o parto normal e incentivar mulheres grávidas a terem seus bebês seguindo as tradições ancestrais.
Além de servir às parteiras da região, a casa será sede da Rede Nacional de Parteiras e Povos Originários e da Rede Internacional Escola de Saberes, Cultura e Tradição Ancestral. As entidades têm como foco a capacitação e a troca de experiências entre as parteiras tradicionais, além do atendimento a mulheres grávidas antes, durante e depois do parto.