O rumoroso caso Marcius Melhem – agora acrescido de um novo caso, com outros acusados – leva a emissora a se equilibrar sobre o fio da navalha
No dia 25 de maio, a 36ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro abrirá as portas para a audiência de instrução de uma ação pública contra o Grupo Globo. A ação, proposta pelo procurador Francisco Carlos da Silva Araújo, pretende discutir se a emissora deve ser punida por não ter evitado a prática do assédio sexual no ambiente de trabalho. A ação está calçada em dois casos. O mais notório envolve o ex-diretor do núcleo de humor da Globo, Marcius Melhem, que é acusado por uma dúzia de mulheres (de assédio sexual) e de homens (de assédio moral).
O caso de Marcius Melhem teve uma evolução tortuosa. Em março de 2020, em meio às investigações internas da emissora sobre as suspeitas de assédio, o ator foi afastado do cargo por 180 dias. No mês seguinte, a Globo contratou uma nova advogada, Carolina Junqueira Reis, para acompanhar as apurações. Em julho, o setor de compliance da emissora ouviu um dos depoimentos mais fortes: a atriz Carol Portes contou, entre outras coisas, ter sido sexualmente atacada pelo seu então chefe Marcius Melhem dentro de um flat na Barra da Tijuca e mostrou mensagens trocadas entre eles, numa das quais o ator pergunta se o “constrangimento” já teria passado. Depois disso, a atriz perdeu espaço no Tá no Ar, o programa humorístico comandado por Melhem. No mês seguinte, a Globo demitiu Marcius Melhem.
No anúncio de demissão, feito em agosto de 2020, a emissora lançou uma nota pública em que agradecia os serviços prestados pelo ator e dizia que seu afastamento era resultado de “comum acordo”. Não havia uma única menção a mau comportamento, desvios éticos ou denúncias de assédio sexual ou moral. Era o primeiro fio da navalha sobre o qual a emissora se equilibrava: o casamento era desfeito, mas ninguém jogaria lama em ninguém. Depois que a piauí relatou o caso, em reportagem publicada em dezembro de 2020 sob o título O que mais você quer, filha, para calar a boca? Melhem negou as acusações e continuou sustentando que sua demissão nada tivera a ver com denúncias de assédio.