Os caminhos e a atualidade do feminismo negro, por Carolina dos Santos Bezerra Perez

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Marcha das Mulheres Negras no Rio de Janeiro. Foto: Mídia Ninja

17 de julho, 2023 Outras Palavras Por Carolina dos Santos Bezerra Perez

No Brasil, o movimento deglutiu experiências internacionais e resistências ao colonialismo. Ganhou robustez com as ideias Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro. E forjou sua teoria e prática na presença: em terreiros, quilombos, periferias…

Peço licença às minhas mais velhas
Ofereço o meu abraço àquelas que estão ao meu lado
Desejo que as mais novas não tenham que ser guerreiras e fortes como nós
Que tenham amor, proteção, apoio e cuidado por onde forem e para o que quiserem ser.

Dar precisão à origem de ideias, conceitos, movimentos e perspectivas quase sempre nos conduz a deixarmos de fora algum dado muito importante e relevante. Sobre o feminismo negro não seria diferente. As dinâmicas e demandas da vida são urgentes e estão relacionadas com situações reais, que nos mobilizam cotidiana e existencialmente. Acredito ainda que as ideias e conceitos nunca surgem em um único lugar e a partir apenas de uma visão excepcional. Elas vão influenciando e sendo influenciadas até que algumas vozes se erguem e encontram eco em outras vozes, que vão aumentando e se corporificando até se imporem em um grito coletivo, não unívoco, não homogeneizado, mas de corpos, narrativas e discursos em disputa que lutam pela sobrevivência e por encontrarem formas diferenciadas de se organizarem em prol de uma luta coletiva.

Para mim, esse grito coletivo é o que muitos chamam de paradigma. Vozes contra-hegemônicas, que se erguem contra a invisibilidade e o silenciamento, contra a subjugação e contra estruturas históricas que foram naturalizadas e normalizadas.

Costumeiramente, o surgimento do feminismo negro é, de modo paradigmático, localizado nos Estados Unidos entre os anos de 1960 e 1970 e está relacionado à luta ativista das mulheres negras na defesa dos direitos civis. Sucintamente, questionava tanto o feminismo branco etnocêntrico e europeizado, que trazia à baila a questão de gênero e da opressão das mulheres, mas em moldes que não percebiam e não viam as especificidades raciais que as mulheres negras e racializadas viviam, quanto o movimento negro que focava na questão racial e questionava a desigualdade e a defesa de direitos básicos para a população negra, mas não atentava às particularidades de ser mulher nesse contexto de racismo. Além de ambos reproduzirem padrões heterossexistas e cis-heteronormativos, que não contemplavam a comunidade LGBTIAPN+, também não atentavam às articulações e interseções que a dimensão de gênero, raça e classe, aliada a outros marcadores sociais da diferença, traziam às lutas reivindicatórias dos movimentos sociais tidos como de esquerda ou de direita.

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