Após constrangimento, lésbicas comandaram invasão ao estabelecimento no centro de SP em 19 de agosto de 1983
“Faz de conta que sou tratada igualmente como todas as pessoas. Faz de conta que o restaurante que eu frequento me respeita como mereço. Faz de conta que a sociedade me encara sem preconceito. Faz de conta até quando?” Essas palavras estampavam folhetos distribuídos e lidos amiúde no Ferro’s Bar na noite de 19 de agosto de 1983.
Naquela gelada sexta-feira, o estabelecimento fincado entre cantinas italianas na rua Martinho Prado, no centro de São Paulo, era palco de um levante protagonizado por lésbicas, as mais assíduas frequentadoras noturnas do local.
Centelha para o movimento partiu da administração do bar. Dias antes da revolta, fora proibida agressivamente a circulação, em suas dependências, do “ChanacomChana”, periódico independente produzido por organizações LGBTQIA+. Contrariadas, mulheres decidiram tomar o local. Convocaram gays, feministas e políticos progressistas.
A investida ocorreu às 22h15. Repórteres empilhavam-se para registrar o momento. Pairava mescla de nervosismo e euforia. À frente iam magnificentes Rosely Roth, Miriam Martinho, Marisa Fernandes e Alice Oliveira, pioneiras do movimento lésbico brasileiro.