A morte brutal de Julieta Inés Hernández Martínez será sempre uma lembrança dolorosa da histórica falta de liberdade da mulher, que deve ponderar e rezar por sua vida quando decide viajar sozinha. O que deveria ser um direito para todas nós é uma inaceitável questão de sorte. Sorte em não encontrar com abusadores. Sorte em encontrar um lugar seguro para passar a noite.
No próximo dia 23, a morte de Julieta completa um mês, e essa ferida está longe de cicatrizar. Para quem não soube, a artista e palhaça venezuelana viajava pelo Brasil de bicicleta até se hospedar em uma pousada em Presidente Figueiredo, no Amazonas.
Julieta ficou dias desaparecida até seu corpo ser encontrado, com sinais de violência sexual e tortura. Os donos da pousada —um homem e uma mulher— confessaram os atos vis e estão presos.
Diversas cidades ao redor do país e do mundo vêm registrando atos em solidariedade e denúncia ao ocorrido. A violência sexual a que foi submetida não será jamais esquecida, assim como a dor das pessoas que a amaram. A comoção tem sido do tamanho de sua vida — uma jornada de amor, de êxito em trazer o sorriso e o conforto onde fizesse suas brincadeiras, de construir um mundo em que as mulheres pudessem viver uma vida mais leve.
Miss Jujuba, uma de suas personagens mais marcantes, que tanto causou a divina manifestação do sorriso, encontrou grande perigo na esquina. Penso que nos assombra o fato de que o que ela sofreu poderia ter acontecido com muitas de nós —como, de fato, acontece.