Não faltam exemplos a mostrar que o julgamento das mulheres já está dado de saída
No que diz respeito aos acontecimentos envolvendo o ex-ministro Silvio Almeida, temos, pelo menos, três possibilidades. Na primeira, trata-se de um homem que usou da sua posição para assediar alunas, assessoras e colegas. Na segunda, ele sofreu uma conspiração envolvendo duas dúzias de mulheres que o estão detratando por outras razões. Por último, foi tudo um grande mal-entendido e suas expressões de carinho e amizade foram interpretadas erroneamente por elas como assédios sexuais.
Não sendo policial, advogada ou juíza, não tenho como validar nenhuma delas. Mas posso refletir sobre as reações, por si só alarmantes, que se seguiram às notícias.
A imprensa tem sido, ao longo da história recente, um dos índices mais importantes para se avaliar o estágio no qual se encontra a democracia de um país. Descolada dos demais Poderes, é condição para que se comece a falar de algum nível de normalidade institucional, ainda que não haja garantias. Atacar as apurações que repórteres fazem sobre dados disponíveis é, no mínimo, suspeito.
E o fato é que já existe, há alguns meses, um processo envolvendo o ex-ministro, levado a cabo por várias mulheres. Por que o cidadão, a quem um ministro representa, não deveria ser informado de que existem tais processos, sejam procedentes ou não?
Casos que envolvem assédio a mulheres têm peculiaridades que costumam se repetir e que são usadas para desqualificá-las. As vítimas podem demorar a reconhecer que a atitude amistosa de uma figura, até então confiável, esconde investidas inadequadas, pois primeiro duvidam de si mesmas, ficando presas na ambiguidade da situação. Mulheres temem retaliações das quais certamente serão alvo. O poder do assediador é seu grande trunfo, apequenando a vítima, que sente medo e vergonha de expor a situação, daí a necessidade de instituições que as escutem em sigilo.
Não importa o quanto o acontecimento seja explícito, ainda arranjarão uma “minissaia” para dizer que a culpa foi dela. Do caso envolvendo Daniel Alves ao de Mariana Ferrer, não faltam exemplos de que o julgamento das mulheres já está dado de saída. Em função disso, qualquer argumento que desautorize a denúncia em função da hesitação e da demora é misógino.