Ao menos 12 candidatas transexuais foram eleitas vereadoras como as mulheres mais votadas em cidades pelo Brasil.
624 candidaturas transexuais e travestis se candidataram a prefeituras e câmaras municipais em 2024. Dessas, ao menos 25 foram eleitas ao legislativo e 12 foram as mulheres mais votadas de municípios brasileiros. O levantamento foi feito a partir de dados divulgados pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) em parceria com a organização VoteLGBT, que mapeou as candidaturas trans totais e eleitas.
Em 2020, 30 pessoas trans foram eleitas, segundo a Antra. Em nota, a associação ressaltou que muitas candidaturas se declararam trans pelo site do TSE “de forma equivocada” e, portanto, nem mesmo o tribunal conseguiu registrar os mesmos dados compilados pelas organizações de candidatos transexuais e travestis nas últimas eleições, que ainda estão sujeitos a atualizações.
Apenas um homem trans se elegeu no país. Thammy Miranda (PSD), vereador em São Paulo e candidato à reeleição, foi o único candidato do gênero masculino a se eleger nessas eleições. As outras 24 candidaturas eleitas foram de mulheres trans.
Maioria eleita vem de partidos à esquerda. Das 25 candidaturas trans que conquistaram um posto nos legislativos municipais a partir de 2025, seis são do PT, cinco do PSOL, uma do PDT e outra do PSB. As demais são de siglas de centro ou centro-direita — PSD, MDB, União, Solidariedade, Cidadania e Podemos.
Eleitas foram as mais votadas, principalmente, em cidades pequenas. Nove das 12 cidades que elegeram as candidatas transexuais com o maior número de votos entre mulheres têm menos de 50 mil habitantes, segundo o IBGE. São elas: Natividade (RJ), Patrocínio Paulista (SP), Entre-Ijuís (RS), Bariri (SP), Piraju (SP), Itaguajé (PR), Turiaçu (MA), Campo Novo do Parecis (MT) e Santo Antonio do Amparo (MG).
“A maioria foi eleita em cidades do interior com forte representação de partidos do campo progressistas. (…) Está nítido que uma parcela da comunidade trans segue atenta aos objetivos de nossas lutas e tem se lançado para construir um legislativo cada vez mais diversos e onde nossas vozes sejam ouvidas”.
Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), em nota
As mais votadas nas capitais
Candidata trans mais votada pelo Brasil recebeu mais de 100 mil votos. Amanda Paschoal (PSOL), apadrinhada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL), foi a segunda mulher mais votada em São Paulo, com 108.654 votos. “A Câmara Municipal de São Paulo volta a ter nossa representação, nosso brilho e nossa luta por uma cidade mais justa para todas as pessoas”, escreveu Paschoal pelas redes sociais.
Em natal, candidata do PSOL foi a primeira trans eleita na capital. Thabatta Pimenta (PSOL) foi a mulher mais votada da capital potiguar, com 7.085 votos, e a 6ª com o maior número de votos entre todos os candidatos. “Está nas nossas mãos fazer história, fazer a inclusão e a transformação que queremos. Estou pronta para ocupar a Câmara Municipal de Natal porque o lugar de uma mulher trans é onde ela quiser, inclusive na política e nos espaços de decisão”, disse Pimenta em um vídeo divulgado no Instagram.
Duas outras capitais brasileiras elegeram candidatas trans. Porto Alegre (RS) elegeu Natasha Ferreira (PT) e Atena Beauvoir (PSOL), e Belo Horizonte (MG) elegeu Juhlia Santos (PSOL), a 10ª mulher mais votada da capital mineira.
“A gente tem uma trajetória árdua pela frente, estar na política não é nem um pouco gostoso, mas é necessário. É necessário que os nossos corpos saiam do gueto e ocupem o centro do debate público, que a gente tenha voz nos parlamentos. E se a extrema direita tem formado novas lideranças, nós deste lado também estamos formando, (…) para contra atacar essa atmosfera de ataque a minorias e perseguição à comunidade LGBTQIA+.”
Erika Hilton, em discurso após eleição de Amanda Paschoal como vereadora de São Paulo