(Folha de S.Paulo) Uma decide os rumos no setor, outra opera a maior empresa, e a terceira regula e fiscaliza as atividades
Desde os tempos dos primeiros hominídeos, as mulheres tiveram papel fundamental como propulsoras da evolução social da raça humana através do papel inicialmente a elas reservado na tribo: cuidar dos filhos e assegurar um ambiente familiar agradável aos homens, enquanto a eles estava reservada a tarefa de provedores de alimentos e de segurança.
A partir de então, a mulher desenvolveu importantes habilidades, que lhe seriam úteis no decorrer dos tempos, como a fala, a orientação periférica e o instinto de proteção, entre outras.
Por ter desenvolvido a fala melhor do que o homem, a mulher de hoje amadurece mais cedo.
Uma menina com quatro anos de idade tem, em média, 2.000 palavras em seu vocabulário -um garoto da mesma idade não tem mais do que 600. Além disso, elas são mais estudiosas, mais exigentes, mais perfeccionistas e lutam com mais intensidade por seus ideais.
Com o passar do tempo, as atividades femininas foram migrando da esfera doméstica à ocupação de diferentes funções na sociedade moderna. Elas já entram em todas as atividades antes reservadas aos homens. Por exemplo, já são mais de 40% dos advogados de São Paulo, são maioria em profissões como jornalismo e estão em todos os lugares: nas Forças Armadas, nas plataformas de petróleo e atuando como motoristas de caminhões e de táxis -estão até nas lutas marciais.
Mas esse avanço não aconteceu de graça. Estatísticas do Departamento de Educação americano revelam que o número de matrículas do sexo feminino, tanto em universidades como no ensino médio, é superior ao do masculino. Revelam ainda que os homens também estão menos presentes do que as mulheres nos cursos de pós-graduação. A mesma pesquisa mostrou, ainda, que elas levam, em geral, menos tempo para completar a graduação.
Dados do IBGE indicam que, no Brasil, a escolaridade da mulher também é mais alta que a do homem. Entre as mulheres trabalhadoras, 52% tinham 11 anos ou mais de estudo em 2003, ante 60% em 2008. As mulheres são maioria hoje nos cursos de graduação e pós-graduação do país, representando 56% das matrículas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Também é maior (62%) o percentual de mulheres que concluem o curso superior, conforme levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, em parceria com o Ministério da Educação.
Mas nem tudo são flores. Para a pesquisadora Amanda Fellows, doutoranda no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), o fato de as mulheres ocuparem 62% dos cargos administrativos em empresas privadas, mas apenas 16% das cadeiras de presidente e de gerente-geral, reside em uma questão sexista: as mulheres ainda são alvo de preconceito de gênero.
No entanto, pelo menos na esfera do petróleo, indústria tradicionalmente de homens, o Brasil se tornou uma exceção. Primeiro, foi eleita a presidente Dilma, ex-ministra de Minas e Energia, ex-presidente do conselho de administração da Petrobras e a quem são encaminhadas para deliberação as recomendações do Conselho Nacional de Política Energética.
No seu segundo ano de governo, ela escolheu a engenheira Graça Foster como a primeira mulher a comandar a Petrobras, a maior empresa da América Latina. Mais recentemente, Dilma empossou a engenheira Magda Chambriard como diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Assim, uma decide os rumos a serem seguidos no setor, outra opera a maior concessionária no país e a terceira regula e fiscaliza as atividades de petróleo e gás natural em todo o território nacional.
Espera-se que o resultado dessa gestão seja positivo não só pelo exemplo que poderá trazer para outros setores da economia como para ofuscar o lamentável desempenho de Cristina Kirchner, na vizinha Argentina, que, após uma série de medidas equivocadas como o congelamento de preços que afastou investimentos do setor e condenou a indústria do petróleo local à estagnação e à obsolescência, resolveu agora reestatizar a YPF para encobrir o seu fracasso.
RODOLFO LANDIM, 55, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.
Acesse em pdf: O mundo (e o petróleo) é delas, por Rodolfo Landim (Folha de S.Paulo – 27/04/2012)