(O Globo) Representantes de movimentos sociais e de entidades de defesa dos direitos da população LGBT receberam com surpresa e analisaram como um passo importante no combate à discriminação as declarações do Papa Francisco durante seu voo de volta do Rio para Roma. Numa longa entrevista no avião, o Pontífice afirmou que os homossexuais não devem ser discriminados, mas integrados na sociedade. E ainda indagou que, se uma pessoa é gay e procura Deus, quem era ele para julgá-la. Presidente do Grupo Arco-Íris, do Rio, por exemplo, Julio Moreira diz que as declarações apontam um caminho de diálogo, sobretudo com relação às questões dos direitos civis de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.
— Acredito que podem abrir a possibilidade de um diálogo inclusive com outras religiões que ainda perseguem e discriminam a população LGBT. Agora, vamos esperar ações concretas da Igreja. Primeiro, vejo (as declarações) como uma posição dele (do Papa). Mas como líder e com poder de influência, creio que ele possa inspirar outros católicos. Este ainda é assunto tabu na Igreja, ligado a questões dogmáticas que não temos a pretensão de mudar. Mas uma coisa é a religião, outra, os direitos civis. Temos avançado bastante nos direitos civis, que não podem ser atrelados a questões religiosas — diz Julio.
Já Cláudio Nascimento, coordenador do programa estadual Rio Sem Homofobia, afirma que é preciso esperar mais para ter clareza das consequências da entrevista do Pontífice, se implicarão mudanças nas ações e no posicionamento da Igreja Católica. Mas ressalta que as declarações já são um passo no enfrentamento da discriminação da população LGBT no mundo. Ele lembra que homossexuais continuam sendo perseguidos, agredidos e assassinados por sua orientação sexual. E que, em alguns países, são punidos até com a pena de morte.
— Ele manda uma mensagem para seus fiéis que os dogmas da Igreja não podem ser usados para justificar a violência e a discriminação de uma pessoa. Outra perspectiva é de são necessárias políticas públicas e ações governamentais para enfrentar a discriminação — diz Cláudio. — O Papa tirou do armário esse tema, que veio para a antessala. Vamos ver se virá para a sala. Não que, com isso, haverá uma abertura da Igreja para o assunto, com relação a seus dogmas. Mas é um passo importante — continuou.
A posição é parecida com a do presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, Fernando Quaresma. Segundo ele, a entrevista do Pontífice alimenta “esperanças de uma mudança próxima”.
— O Papa está no topo da hierarquia da Igreja Católica e pode, sim, fazer essas mudanças. No próprio cristianismo, Cristo sempre esteve do lado dos mais fragilizados. Hoje, entre outros grupos, os LGBTs estão entre os mais fragilizados, submetidos a agressões pela questão sexual. Nada mais justo do que uma visão mais humana sobre o tema — diz Fernando.
Nesse sentido, diz outro teólogo, Érico João Hammes, professor da PUC-RS, a Igreja Católica tem aprofundado estudos sobre homossexualidade:
— É preciso esperar a continuidade desses estudos e aguardar os avanços da própria sociedade.
Acesse o PDF: Movimentos gays veem avanços nas falas de Francico (O Globo, 30/07/2013)