(O Globo) O tempo é curto e as negociações difíceis. Mães, trabalhadoras e casadas da comunidade de Paraisópolis em São Paulo contaram para a jornalista Fernanda Sucupira como fazem para multiplicar o tempo e dar conta de tudo. O trabalho de mestrado em Sociologia na Unicamp de Fernanda encontrou uma jornada quase ininterrupta:
— Elas trabalham de três a seis horas por dia em casa durante a semana e contam que no fim de semana é o tempo inteiro.
A pesquisa exibe o drama dessa corrida contra o tempo. Uma das entrevistadas chega a dizer, quando perguntada se gostaria de ter mais tempo no dia: “Ai, tá bom. Se não seria mais passar roupa, mais limpar a casa. Não, tá bom, tá ótimo.”
Fernanda percebeu ao ouvir as mulheres de 25 a 49 anos que o tempo não pertence a elas:
— Em um caso, até o ex-marido ditava como a mulher deveria usar o tempo. Ele impediu que ela voltasse a estudar por causa da filha pequena. E a negociação é difícil, há conflitos e tensão.
Moradora do Grajaú, na periferia de São Paulo, Ana Paula Ferreira Santos, 35 anos, se considera uma mulher de sorte. Não trabalha o dia todo e o marido, Wagner, vez ou outra ajuda nas tarefas à noite, como esquentar o leite para o filho, Luís Henrique, de 4 anos. Há um ano, Ana Paula retornou ao antigo emprego, um clube na região do Ibirapuera, onde trabalha das 8h às 15h. Não fossem as quase duas horas que demora no trajeto até sua casa, de ônibus, teria mais tempo para afazeres domésticos e descanso. Mas chega em casa perto das 17h e, logo depois, a van da creche deixa o filho. Arruma a casa, lava roupa, dá banho no filho e faz o jantar. Dá comida a Luís Henrique antes, e espera o marido:
— O tempo é curto. Quando vejo, são sete horas da noite.
Acesse o PDF: Negociação difícil em casa (O Globo, 25/08/2013)