(Folha de S.Paulo, 08/04/2014) Projetada por Oscar Niemeyer, a antiga sede do jornal comunista “L’Humanité” é um dos orgulhos arquitetônicos de Saint-Denis, cidade colada a Paris que é uma fortaleza da esquerda francesa.
O prédio envidraçado com linhas curvas foi inaugurado em 1989 como um espécie de homenagem em concreto armado à causa comunista.
O destino político de Saint-Denis voltou a se ligar ao de uma militante comunista brasileira com a posse, no último sábado, da vereadora Silvia Capanema, 34, do PCF (Partido Comunista Francês).
A informação foi publicada anteontem pelo jornal “O Globo”.
“Numa assembleia do partido com umas 80 pessoas, me designaram para fazer parte da lista de candidatos. Eu disse duas vezes que não queria, mas na terceira aceitei”, contou à Folha.
Mineira de Belo Horizonte, Silvia graduou-se em jornalismo e se mudou para a França em 2002 para fazer um mestrado em História. Em 2010, após concluir o doutorado, ela foi aprovada em um concurso para a Universidade Paris 13, onde leciona português e história do Brasil e da América Latina.
Ao se naturalizar francesa naquele ano, passou a militar no PCF. “Sempre fui de esquerda, mas o fato de ter me naturalizado me deu um impulso para participar mais ativamente do processo político aqui”, contou.
No Brasil, Silvia militou no movimento estudantil, mas nunca se filiou a partidos. Seu coração batia pelo PT até o início do governo Lula em 2003. Depois, passou a simpatizar com o PSOL.
“Antes eu tinha uma oscilação entre ficar na França ou voltar ao Brasil. Mas agora isso já é uma coisa resolvida. Vou ficar aqui”, diz ela, que está grávida de sete meses.
Voto Imigrante
Nas eleições municipais de março, a direita tradicional e a extrema direita emergiram como as grandes vitoriosas graças ao desgaste do socialista François Hollande, a quem as pesquisas apontam como o presidente mais impopular desde 1958.
A tendência não alcançou a vermelha Saint-Denis, que elege comunistas e seus parceiros de coalizão desde 1921. Silvia fez campanha principalmente no seu bairro, Telaunay-Belleville. Foi eleita graças a uma plataforma a favor de mulheres e imigrantes.
“Temos mais de 130 nacionalidades aqui, e muitos estrangeiros não podem votar. Acho que o fato de eu ser uma imigrante ajudou a conseguir votos de naturalizados e de filhos de imigrantes”, disse.
Como vereadora, Silvia Capanema não terá direito a salário, mas a uma ajuda de custo de € 228 (R$ 697) que será repassada direto ao partido –o que ela considera justo, por se tratar de uma função pública “e não uma carreira pessoal”.
Graciliano Rocha – Colaboração para a folha, em Paris
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