(Seculo Diário, 05/07/2014) O Fórum Estadual da Juventude Negra (Fejunes) realiza, neste sábado (5) uma plenária para debater os desafios do processo de organização do segmento e apontar perspectivas para avançar na luta contra o racismo. Esta é a etapa estadual preparatória para a atividade do Fórum Nacional de Juventude Negra (Fonajuve), que acontece nos dias 30 e 31 de agosto no Estado.
A plenária do Fonajuve vai discutir diretrizes para a realização do II Encontro Nacional de Juventude Negra (Enuje), que vai ser realizado em 2015.
De acordo com a coordenadora do Fejunes, Silvana Ribeiro, frente ao cenário de extermínio da juventude negra no Estado, o encontro vai traçar estratégias para o enfrentamento desta realidade.
Nesta quarta-feira (2) foi lançado o Mapa da Violência 2014 – os Jovens do Brasil, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfiz, lançado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), que comprova que há, no Estado, o extermínio da juventude negra. Segundo o estudo, taxa de mortes violentas de jovens negros ficou em 155 por 100 mil em 2012 (ano usado como base para o levantamento), com variação positiva de 1,2% em uma década e positiva de 0,2% entre 2011 e 2012.
Para Silvana, esta realidade não deve mudar caso não haja maior engajamento e organização desta parcela da população.
O Fejunes foi criado em 2007 e desde lá realiza uma série de ações, principalmente, com intuito de denunciar o extermínio da juventude negra e propor medidas para enfrentamento ao racismo. Uma dessas ações é a Marcha Estadual Contra o Extermínio da Juventude Negra que já vai para sua sétima edição e ocorre sempre no 20 de novembro (Dia da Consciência Negra).
Através da luta do Fórum, em conjunto com outras organizações, já foi possível experimentar algumas conquistas como a criação dos Conselhos e das Gerências de Igualdade Racial e Juventude e o lançamento do Plano Juventude Viva no Espírito Santo, que visa enfrentar a violência contra a juventude negra.
Fatores
O Mapa da Violência conclui que três fatores podem ser mencionados para compreender as altas taxas de homicídios no País. “Em primeiro lugar: a crescente privatização do aparelho de segurança. Como já ocorrido com outros serviços básicos, como a saúde, a educação e, mais recentemente, a previdência social, o Estado vai progressivamente se limitar a oferecer, para o conjunto da população, um mínimo – e muitas vezes nem isso – de acesso aos serviços e benefícios sociais considerados básicos. Para os setores com melhor condição financeira, emergem serviços privados de melhor qualidade (escolas, planos de saúde, planos previdenciários etc.). Com a segurança vem ocorrendo esse processo de forma acelerada nos últimos anos”.
O segundo fator apontado pelo Mapa é um complemento do primeiro. “A segurança, a saúde, a educação, etc. são áreas que formam parte do jogo político-eleitoral e da disputa partidária. As ações e a cobertura da segurança pública distribuem- se de forma extremamente desigual nas diversas áreas geográficas, priorizando espaços segundo sua visibilidade política, seu impacto na opinião pública e, principalmente, na mídia, que reage de forma bem diferenciada de acordo com o status social das vítimas. Como resultado, as áreas mais abastadas, de população predominantemente branca, ostentam os benefícios de uma dupla segurança, a pública e a privada, enquanto as áreas periféricas, de composição majoritariamente negra, nenhuma das duas”.
Por fim, o terceiro fator agrava todo o problema. Um forte esquema de “naturalização” e aceitação social da violência que ocorre em vários níveis e por diversos mecanismos. A vis]ao de que uma determinada dose de violência é aceita e até mesmo encorajada acaba por agravar o quadro, principalmente quando ocorre entre pessoas e instituições que teriam a obrigação e responsabilidade de proteger a sociedade da violência.
“Num primeiro nível, esse esquema opera pela culpabilização da vítima, justificando a violência dirigida, principalmente, a setores subalternos ou particularmente vulneráveis que demandam proteção específica, como mulheres, crianças e adolescentes, idosos, negros etc. Os mecanismos dessa culpabilização são variados: a estuprada foi quem provocou ou ela se vestia como uma “vadia”; o adolescente vira marginal, delinquente, drogado, traficante; aceitabilidade de castigos físicos ou punições morais com função “disciplinadora” por parte das famílias ou instituições, moreno de boné e bermudão é automaticamente suspeito etc. A própria existência de leis ou mecanismos específicos de proteção: estatutos da criança, do adolescente, do idoso; Lei Maria da Penha, ações afirmativas etc. indicam claramente as desigualdades e as vulnerabilidades existentes”, conclui o estudo.
Acesse o PDF: Encontro debate diretrizes para enfrentamento da violência contra a juventude negra