Polícia procura homem que espancou lésbica em Ipanema

11 de julho, 2014

(O Globo, 11/07/2014) A CET-Rio e comerciantes da esquina das Avenida Henrique Dumont com a Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, vão enviar à polícia imagens das câmaras de segurança para tentar identificar um homem que espancou a DJ Carla Ávila na última sexta-feira. Na noite desta quinta-feira, Carla e a namorada, além de diversos ativistas, representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB e de ONGs, participaram de um protesto em frente ao Bar 20, onde se deu o crime homofóbico. A vítima conta que passava por lá e discutia com a namorada, depois da partida entre Brasil e Colômbia pela Copa do Mundo, quando um homem se levantou de uma das mesas do bar e, aos gritos de “sapatão”, a estapeou no rosto. Caída no chão, Carla ainda foi chutada várias vezes na cabeça. Ela teve o tímpano estourado, além de escoriações, cortes e hematomas. De acordo com o casal, nenhum funcionário ou frequentador do bar fez algo para impedir a agressão.

Ontem, Cláudio Nascimento, coordenador do Programa Rio Sem Homofobia, disse que o Disque-Denúncia LGBT recebeu uma denúncia anônima e já enviou o nome do suspeito à 14ª DP (Leblon), onde o caso foi registrado. No fim da tarde, o ato organizado pelo movimento feminista Bastardxs e pelo Grupo Arco-Íris teve beijaço entre meninas, que pediram respeito à diversidade sexual e uma punição exemplar para o agressor. Carla disse ter ficado chocada com a falta de reação das pessoas no bar diante do ataque gratuito.

Orgulho e preconceito. Ativistas pelos direitos de minorias sexuais estendem bandeira em frente ao bar - Guilherme Leporace

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— Levantaram, aplaudiram e assoviaram. Tiraram fotos e fizeram filmagens. Ninguém ajudou. O agressor voltou ao bar, pagou a conta e fugiu. O que eu mais quero é que essa pessoa seja punida e sirva como exemplo para outros que acham que agressões absurdas como essa podem ficar impunes. Ainda não posso trabalhar, embora as feridas e os hematomas estejam passando. Mas o pior é a marca emocional — afirmou a DJ, que está no último período de Psicologia e disse ter recebido total apoio da família e de desconhecidos país afora.

A delegada Monique Vidal, da 14ª DP, crê que o reconhecimento do agressor (ou de eventuais agressores) será fácil.

— Assim que os identificarmos, os envolvidos serão intimados. Nada justifica uma agressão gratuita e homofóbica como essa — afirmou.

ESTABELECIMENTO PODE SER PUNIDO

O Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos da Defensoria Pública do Rio acompanha o caso como assistente de acusação. De acordo com a coordenadora do departamento, Luciana Mota, os relatos da vítima chamam a atenção pela covardia.

— É uma mulher de 1,60m, que foi fortemente agredida e está cheia de lesões pelo corpo — frisou.

Segundo Luciana, o caso joga luz sobre a banalidade desse tipo de crime. Uma média de dez denúncias de agressões gratuitas chega ao núcleo a cada semana.

— Muitas vítimas não registram ocorrência. É importante que passem a fazê-lo — afirma.

Carla formalizou uma denúncia na Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS), que, após solicitar à CET-Rio imagens da esquina de Henrique Dumont com Visconde de Pirajá, e ouvir uma testemunha que estava no local, intimará o Bar 20 a apresentar sua defesa por suposta infringência à Lei 2475/1996, que pune estabelecimentos comerciais que discriminem cidadãos por conta de sua orientação sexual.

Em nota publicada em sua página na internet, o Bar 20 afirma que “não ocorreu, em hipótese alguma, qualquer ato de agressão nas dependências do estabelecimento (…), pois, caso houvesse, os responsáveis pelo estabelecimento não hesitariam em contatar as autoridades públicas”. O bar afirma estar à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos. Ontem, funcionários não quiseram falar sobre o incidente e afirmaram já estar colaborando com as investigações.

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) publicou em sua página um texto de apoio a Carla Ávila. “É imprescindível que esse tipo de violência dura que atinge exclusivamente a população LGBT deixe de ser ignorada pelo poder público em um país que detém o amargo título de campeão de assassinatos de pessoas LGBT em todo o mundo”, escreveu.

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