(Correio Braziliense, 13/08/2014) Durante muito tempo, o Brasil ostentou a crença de ser um paraíso racial que teria escapado do racismo. Essa ideia surgiu, principalmente, por conta da comparação com outras nações em que o preconceito e a discriminação racial eram mais expostas. Essa ausência de questionamento sobre o assunto dificultou o enfrentamento do racismo no país (que sempre existiu).
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Nos últimos meses, a Copa do Mundo foi responsável por despertar esse debate. A chamada diversidade brasileira foi contestada pela falta de negros nas arquibancadas dos estádios. Dentro do campo, a pouquíssima presença de crianças negras, que entravam ao lado dos jogadores, confrontou o evento que teve como um dos temas “Copa sem racismo”.
A ausência de afrodescendentes no Mundial também é vista em outros ambientes como em cargos de chefia de empresas públicas e privadas, setores da educação e da saúde, e ainda no ambiente artístico. Na sétima arte, a situação foi comprovada por meio da pesquisa A cara do cinema nacional, desenvolvida no Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
O estudo analisou os filmes nacionais de maior bilheteria entre os anos de 2002 e 2012 e mostrou que apenas 14% dos atores são negros e 4% das atrizes também. Os números ficam ainda mais alarmantes quando investigada a participação em roteiro e direção: 4% dos roteiristas e 2% dos diretores são homens negros. Nesses ambientes, não existe nenhuma mulher negra.
Adriana Izel e Maíra de Deus Brito
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