(Agência Brasil, 28/10/2015) A organização social das aldeias têm muito a ensinar sobre o papel da mulher à sociedade do “homem branco”. Essa é a opinião de Genilda Kaigang, indígena da etnia Kaingang, do Paraná, e membro do Conselho Indígena do Paraná. Segundo ela, as mulheres são parte importante na tomada de decisão dos caciques e demais líderes das aldeias.
“Existe um certo machismo dentro da reserva indígena, mas, no fundo, quem decide, quem dá a última palavra, são as mulheres. Eles sempre consultam as mulheres para tomar as suas decisões. Eles estão sempre à frente dos movimentos, mas as decisões são costuradas dentro de casa e eles consultam as mulheres”, disse.
Durante a roda de diálogos sobre o avanço das mulheres indígenas, feito hoje (28) e parte da programação dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI), Genilda Kaingang também mostrou preocupação com os novos tempos, em que mais indígenas saem das aldeias para cursar a universidade, são expostos a uma nova cultura e, por vezes, sofrem preconceito de outros índios.
“Nossas filhas e filhos, fatalmente, vão namorar, casar e ter filhos. As meninas voltam para dentro da reserva [do período de universidade] casadas; as meninas grávidas, e sofrem muito preconceito. Dizem que não são mais índias. É um monte de equívocos que só com o tempo vai se resolver”, disse.
Durante o debate entre mulheres indígenas de vários países, a presidenta da Associação das Mulheres Indígenas do Tocantins, Eliete Xerente, falou sobre as violações dos direitos dos indígenas e exemplificou com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que tramita no Congresso Nacional e transfere a decisão sobre demarcação de terras indígenas do Ministério da Justiça para o Parlamento. Para ela, as mulheres também precisam se posicionar e lutar pelas causas que acreditam.
“Hoje estamos aqui levantando a bandeira, construindo as causas indígenas para que possamos avançar. Não podemos mais ficar calados, cruzar os braços. Isso pra mim é um desafio agora”, disse Eliete. Ela lembrou também de outros indígenas que tem sofrido atentados no Mato Grosso do Sul. “Tudo isso [os jogos indígenas] é bonito. Para nós é coisa de outro mundo, mas o que está acontecendo ninguém vê. Os parentes derramando sangue e a gente discutindo aqui”.
A canadense Diana Cree, do povo Cree, defendeu a fala da índia Xerente. “A verdade é que pessoas estão morrendo. As pessoas não falam a verdade com medo de repercussões contra seu povo. Obrigado por me convidarem para seu país e me chamarem para sentar aqui”.
A PEC 215 dominou os assuntos na vila dos jogos durante todo o dia de hoje. Lideranças indígenas se manifestaram contra a decisão dos parlamentares e ameaçaram parar as competições da tarde. Os jogos, no entanto, ocorreram e só foram interrompidos no final, por um grupo de indígenas que invadiu a Arena Verde e protestou pacificamente contra o Congresso e a ministra da Agricultura, Kátia Abreu.
Marcelo Brandão; Edição – Fábio Massalli
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